sábado, 19 de maio de 2012

Viagens em Freud


Nem todos os sonhos do mundo são realizáveis. Naquele dia Guilherme deixou seus afazeres cotidianos para dormir, já cansado dos extremos violentos de suas atividades pediu para si mesmo um bom descanso. No dia, lutava. As memórias de suas habilidades estavam presentes nos socos e chutes esporádicos e instantâneos, em frequência ao dia de combates, vinha a noite, dotada de reflexão, apaixonante em seus beijos, abraços e carícias com o primeiro último amor. A euforia do dia era transportada para um lugar quase extinto, ou no mínimo deixava se encobertar. Vários sonhos de amores vãos embalavam a mente dele enquanto se enamorava com a amante. De dia a brutalidade, mesmo que sem violência. De noite a calmaria do abraço. 
Quando se deitou, demorou a fechar os olhos, e se deparou com um mundo novo. Um mundo colorido, cavalos azuis, pássaros verdes, amarelos, rosas, vermelhos. A grama parecia mudar de cor a cada olhada, pensei estar na fantástica fábrica de chocolate, mas a grama não tinha um gosto exatamente doce. Embora os unicórnios dali gostassem dela, andavam em bandos, ao lado dos carneiros e bodes livres. Não estava em nenhuma fazenda, nem em algum outro mundo, tudo era igual demais para isso. Não haviam cercas, Tudo estava em paz. Não vi nenhum humano, era só eu e os unicórnios brancos de chifres brilhantes. Caminhando na paz de um sol agradável, a mente se solta deixando-me voar na atmosfera mágica, e passando de terras em terras ia conseguindo ver a extensão desse mundo novo. Vi uma macieira e voltei ao chão, precisava me alimentar. Ao descer recolhi a maça mais vermelha do topo da árvore a li fiquei a comê-la. O que estava acontecendo? Queria entender. Um dos pássaros que ali estavam, na árvore, parecia querer falar comigo. Era todo azul e tinha algumas plumas manchadas de vermelho. Se parecia muito com a figura da fênix que conhecemos, aliás, lá também existiam algumas dessas aves maravilhosas. Era a extensão de um mundo que não poderia existir onde vivo. Ouvindo o pássaro conseguia me aproximar daquela extensão, e me sentia parte daquilo. Ali voei. Senti, vivi. Quando o pássaro voou em meu ombro, senti um abraço completo. Era como se o mundo ali tivesse parado. Os barulhos pararam. As aves pararam, e o mundo se desfez. Abri os olhos. Sonho estranho! Passei alguns dias me sentindo mal por isso. Queria saber por que aquele sonho havia acontecido, nunca desejei ver nada daquilo. Tenho um professor de literatura que se apaixonaria por um mundo assim. Sentei-me na cama, eram duas horas ainda, eu tinha pela frente mais da metade da noite. Mas não me sentia mais cansado, aquele sonho pareceu lavar minhalma, e retirar de meu corpo o cansaço. O que aquele pásssaro simbolizava? Foi o abraço mais aconchegante que já senti. Talvez não pertencesse àquele mundo. Talvez fosse uma extensão dos meus sentimentos. A forma como ele surgiu foi interessante. De uma explosão que veio do nada. Eu conheço uma pessoa que explode a todo o momento, e me causa um grande desconforto. Mas não me abraça após isso. Pelo contrário. A explosão é o sinal do maior afastamento. Não posso dizer aqui quem é. Mas eu acho que entendi meu sonho. Devo criar meu próprio mundo. Sem os medos do passado, e com as perspectivas do futuro. Pois é ali que a liberdade se fará verdadeira.

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