sábado, 19 de maio de 2012

Melancolia


As paredes estão melancólicas hoje, tudo cinza, sempre foi assim, e esse ar bucólico sempre me acalmou. Contudo, nestes últimos dias tenho entrado em desespero. Não sei direito como explicar o que sinto, sempre que vejo esses meninos na rua, entro em um frenesi de sentimentos consecutivos, que se misturam ao final, primeiro sinto a atração, aquele amoroso sentimento que traz a vontade de abraçar, de sentir a pele quente sobre nós. Depois vejo sobre mim uma vontade imensa de amar, de sentir o beijo sobre minha pele. Por último a depressão, causada pela certeza de que nada disso acontecerá.
A cada dia me sinto mais só. Todos esses que olho tem amores complexos, encadeados por uma relação firme e duradoura, há anos, me apaixono todas as semanas. Cada vez que isso acontece, a depressão volta, e cada vez que passa me apaixono de novo, e o ciclo recomeça. Eu não resisto àquele sorriso que por si só alegra meu dia.
Todos temos isso, todos sentimos isso. Quando saímos às ruas, e um belo sorriso nos alegra o dia, nos apaixonamos... Nos decepcionamos. A decepção é a conseqüência primária do amor.
Não existe amor que não gere decepção. Segue essa verdade nos caminhos da vida. Por isso, nos últimos dias não tenho saído muito, tenho evitado os sorrisos. Os desastres pequenos da alma. Fico me privando a ver filmes velhos que compro a frente do apartamento, de um senhor pomposo, e a assistir o mofo da parede crescer.
Isso me faz feliz. Pelo menos tenho tentado acreditar nessa falsa verdade. Mesmo assim me inclino contrariamente à vontade da razão esperando esse amor incrédulo que existe apenas em filmes e na minha cabeça inocente.
Quanta monotonia cerca essa vida embalada ao som de tangos antigos, de boleros, de valsas. As paredes cinza me assistiram dançar com a almofada. As ações se repetem nessa escuridão dalmífica. Sem sentido.
De vez em quando sento-me diante da janela,  e do parapeito avisto as pessoas que se movem diante do transito logo abaixo. Penso em pular. Penso em amor. Penso em esperança e em oportunidade.
Continuo sozinho, esperando atitudes. Rezando aos santos pendurados na parede da vizinha, pedindo um amor de verdade. Tudo que me vem, são noites sólidas, quentes frias. Amores. Lembranças do passado, dos amores idos, matados.
É então que lembro. Devo deixar as lembranças seguirem seu caminho, e construir de novo a minha estrada. Mas quando estava saindo à rua, pela primeira vez depois de duas semanas enfurnado no apartamento. O novo porteiro do prédio olhou em meus olhos e sorriu.

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