terça-feira, 7 de outubro de 2014

Noturno I

Ele caminha pela rua a noite, a procura de algo que não encontrará, pois aqui não há nada. Só o desespero interno. Sonhava anjos antes, porque os anjos eram inexistentes, mas proporcionavam a ele, a sublimação da solidão transportada para a dor nas genitálias causadas apenas pela imaginação. Agora os anjos se foram, e não resta mais nada, só o silêncio noturno de Chopin na mente, procurando espaços entre os pensamentos para dedilhar mais uma tecla do piano desafinado, som da memória. Eu era um anjo e podia vê-lo desesperado, entre cervejas e sonhos, entre espasmos de dor interna sentimental, e memórias selecionadas no acaso de uma vida triste. Ele caminha pela rua a noite procurando a felicidade sozinho. Arvores com grandes copas criam-se na mente sendo iluminadas pela raiz. Pássaros brotam do chão, arrastando-se com as asas machucadas. Onde não há paredes existe o cheiro do mofo. Os morangos que mofaram, do meu amigo Caio, que já falou sobre esse mesmo sentimento, sobre esse mesmo piloto da vida, sobre esse homem que caminha pela rua a noite, a procura de algo que não encontrará. Não há para ele final feliz, e tudo já é final. E tudo já é loucura, e o suicídio toma conta do seu corpo, porque na rua, a noite, não há ninguém, e árvores não fazem cafunés.


Preâmbulo sobre minha literatura

Venho pensando em escrever sobre mim no blog. E fico a avaliar se é isso algo necessário, ou no mínimo, coerente. Eu uso muitas vírgulas para dar ênfase às palavras. E isso não caberia em minha vida, que tem sido excluída de ênfase de qualquer gênero. Então. Ao invés de pensar no suicídio que poderia ser uma opção para a fuga dos problemas sentimentais de minha alma e coração, de minha mente inimiga, e do mundo que parece estar contrariado às expressões de amor que distribuo aos quatro ventos, escrevo. Pedindo a todos que desconsiderem o preâmbulo. Octávio Paz, em O Arco e a Lira disse que o poeta não se exclui da sua obra. Me disseram que eu leio mal Paz. Mas eu acho que a ligação entre o sentimento interno, e o poema é mais íntima do que se pode pensar, sonhar, imaginar. Não há poesia sem escritor, não há poesia sem poeta, sem artista, sem sentimento. Então mando ao extasiado foda-se às regras da quase literatura acadêmica, para dizer o que sei dizer de melhor.

Na verdade esse texto é só provocativo, vez que eu sempre estive inserido em meus textos, por mais externos que fossem a mim, ou por mais descritivos sobre o relato alheio da vida amorosa de outros. 

Só peço que, no fim das contas, considerem quem escreveu o texto, já que a poesia não é feita para ser lida, e sim sentida. Mas ao mesmo tempo, não relacionem tudo a mim, pois eu crio casos e situações, e o papel do escritor é esse: contar histórias.

Att. Leandro Benevides