terça-feira, 7 de outubro de 2014

Noturno I

Ele caminha pela rua a noite, a procura de algo que não encontrará, pois aqui não há nada. Só o desespero interno. Sonhava anjos antes, porque os anjos eram inexistentes, mas proporcionavam a ele, a sublimação da solidão transportada para a dor nas genitálias causadas apenas pela imaginação. Agora os anjos se foram, e não resta mais nada, só o silêncio noturno de Chopin na mente, procurando espaços entre os pensamentos para dedilhar mais uma tecla do piano desafinado, som da memória. Eu era um anjo e podia vê-lo desesperado, entre cervejas e sonhos, entre espasmos de dor interna sentimental, e memórias selecionadas no acaso de uma vida triste. Ele caminha pela rua a noite procurando a felicidade sozinho. Arvores com grandes copas criam-se na mente sendo iluminadas pela raiz. Pássaros brotam do chão, arrastando-se com as asas machucadas. Onde não há paredes existe o cheiro do mofo. Os morangos que mofaram, do meu amigo Caio, que já falou sobre esse mesmo sentimento, sobre esse mesmo piloto da vida, sobre esse homem que caminha pela rua a noite, a procura de algo que não encontrará. Não há para ele final feliz, e tudo já é final. E tudo já é loucura, e o suicídio toma conta do seu corpo, porque na rua, a noite, não há ninguém, e árvores não fazem cafunés.


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