quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Criancinhas





Desde criancinhas
Pulando e pulando
Cirando, girando, gritando
E a senhora da esquina bravava
E a lua não descansava
E a gente corria
Desde criancinha
Dançando e dançando
Ciranda, ciranda, esperança
E o mundo girava
Devagar, e a gente acompanhava
Tentava correr como avião no céu
E gritava
E a senhora da esquina bravava
E a mãe chamava o jantar
E a lua, a lua não descansava
Desde criancinha
O mundo era engraçado
E a senhora da esquina bravava
E esse era nosso único problema
Hoje, adulto
Adultina, doença!
A gente trabalha
Trabalha e chora
E sustenta
E paga
E vota
E o mundo continua girando
E a gente só se cansa
E quer o mundo como o mundo nos quer
E tudo que a lua faz é descansar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Carmesin?

Me falaram das flores de Carmesin, que porra é essa? Se escreve com m ou com n no final? Sei que achei essa merda toda linda. Ah, o sexo, a frutificação prazerosa do amor. Se Carmesin desse fruto, ele se chamaria Carma.; teria um sabor misto de manga e morango. O carma do sexo. Vício arredio que aniquila. Os sonhos que se concretizam. É o amor. Acho então, eu, que flores de Carmesin, recitadas ao pé do ouvido são flores de sexo. E aí de mim, hoje, que vou ao jardim.




Antes que algum anormal me diga que carmesin se escreve com m e não com n, eu aviso que é proposital o erro.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Carrossel

PARA LILLIAN SALLES



Passeava no campo, com as flores no derredor. Abria os braços, finos e delicados, e rodava em meio ao capim, seco, florido, como um carrossel, o sol que batia no rosto dava vida a ela. E assim ela continuava a sonhar. Sonhava com os namorados que foram embora, mas que ainda não haviam sequer aparecido. Nenhuma vez. Sonhava com a noite que chegaria daqui a alguns minutos, quando o sol começasse a se pôr, e que nessa noite ela via alguns anjos caminhando ao lado dela. Talvez por isso ainda estivesse ali. Sentindo o perfume das flores. Eu a via, com vestido de renda e algodão, toda fresca. Eu a via de longe, da janela de uma casa distante. Eu a via porque estava o dia todo olhando para ela. Eu via essa menina, que rodava e rodava como um carrossel. E ela sonhava. E sonhava com as flores ganhando vida. Com as estrelas que passeavam no seu corpo, como abelhas a procura do mel. E ela sonhava com anjos caminhando ao lado dela. Eu a via. A via porque o sonho dela ia se realizar. A via do alto das nuvens, da casa distante, construída em cima de uma nuvem, no céu. Que logo iria escurecer. Eu a via de perto, caminhando ao lado dela. E minhas asas a abraçavam

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O duplo


Eu sou dois. O duplo. Canto a vida como se fosse minha, mas em mim existem dois. Dois seres distintos e com vontades próprias. Eu digo, desista. E ele me diz, vá em frente. Enfrente. Eu digo, amor. Ele diz, pense. Quem sabe um anjo em mim? Talvez nos sonhos de uns dias. Pois em mim, existem dois. E meus sonhos não são só meus. Eu digo, paciência. Ele diz, paciência é o caralho. Talvez eu esteja apenas projetando meus sonhos. Quem sabe meu eu interior, ou o eu verdadeiro, seja mais bonito e mais forte. Talvez eu seja apenas a manipulação e não o manipulador. Há em mim, dois de mim. Há em mim, um outro eu.Talvez um eu interiorizado. Um eu de mídia. Faz sentido, quando pensamos na manipulação. Mas não sou um resultado de projeção mental. Sou um que sou dois. Eu tenho dois em mim. Não são dois lados. Bem e mal. Não. Definitivamente não. Sou apenas dois, porque eu penso, e duas cabeças pensam melhor que uma?!!! Sou dois então, enfim. Sou dois. Dois de mim. Duas entidades, talvez seja porque ultimamente, tenho pensado duas vezes em tudo, para decidir melhor. Quem eu devo matar para sobreviver. Preciso de dois de mim. Para me manter na selva. Dois de mim para que eu consiga passar os dias comigo mesmo. Sem estar sozinho. Dois em mim. Aqueles dois. Que se amam. 

O bobo



Era um sorriso bobo, bobo, etc. Mas mesmo assim me encantava. Eu que esperava ouvir sonetos e canções eruditas, que sonhava em ver Camões em meu quarto falando sobre as ninfas e os cupidos, eu que sempre amei a inteligência e admirei quem a tinha. Estava apaixonado por um bobo. Um bobo que ria em espasmos, grunhia palavras, com voz grossa e abafada, e que empilhava ofensas em tom de riso, para me provocar somente. E eu deixava-o; Que fizesse o que queria, ele podia tudo; Que sonhasse o que pudesse, bastava que eu estivesse em seus sonhos; Que beijasse quanto quisesse, desde que a mim, e somente a mim. Que se apaixonasse... enfim, na luta da conquista que se fez, em olhares furtivos, com as mãos que esbarravam.