sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Flores Fragmentadas



I


Porque todos os jardins do mundo não são como os jardins da babilônia. Estão recheados de papoulas e girassóis, são grandes as flores do nosso tempo. Elas crescem com a luz, à luz de um sentimento vivo. Espasmódico. Sentimentos eternos em figurações florais, em perfumes raros, em estímulos corporais, das sensações, o vento no rosto, o beijo, o pelo, e mais. O laço eterno de nossos corações.


II


Os campos os campos. Flores miúdas sobre a relva, em tons pastéis o céu colore o dia frio, frio, mas limpo. Eu corro nu sobre o campo florido, os anjos todos esperam a chegada dos olhos. Sim, todos os anjos estão presentes, asas enormes a dourar sob a luz do sol. Panapaná levanta-se como nuvem sobre os olhos. Reluzentes brilhos sobre nós, do sol, do céu, dos anjos, a abençoar o nosso amor sobre a grama morna.


III


Chove, você espera ansioso a chegada do guarda chuva que eu levo. O Barro sobre os pés não condizem com quem é você, menino urbano. Mas é diferente dessa vez, as violetas levantam o perfume até o seu rosto. Encantam-te as cores rosadas, escuras, tons e tons. Suaves toques no piano vem a sua mente. E ali, sozinho enquanto me espera, leve chuva sobre os ombros, aproveita o tempo sozinho. Pensa, e por todo o pensamento, estamos nós, cobertos por brancos tecidos levados ao vento, estamos nós nos beijando no mais tenro silêncio, do barulho da chuva e do cheiro das flores molhadas.


IV


Não há mais campos e girassóis. O desertou surge com toda a força. Estávamos juntos, o lírio secou. A água se esvai. A única flor que vemos, está presa em um cacto. No meio do deserto estamos sós. Ainda assim. O que é o deserto, se teremos todos os paraísos para sempre? Um Gênio nos toca e o fundo do mar é uma visão espetacular de todos os amores do mundo, num céu submerso.


V


Correm os carros na cidade grande. O barulho extremo procura calmaria. Quer invadir os sonhos dos homens perdidos. E eu aqui, refúgio e cidadela para você. Podem cair mil homens a tua esquerda e dez mil a tua direita, mas eu ficarei do seu lado, na urbe do nosso tempo. E ainda assim, procurarei na loucura dos dias, copos de leite, lírios, crisântemos, margaridas, e serão poucas para agradar o seu amor por mim, no cinza dos nossos dias.



VI



Devoram-me as carnívoras flores da floresta. Somente as flores sentem a valorização de minha carne. Você me deitou sobre as flores da relva. Ali antes deserto, agora a imagem de Chernobyl, não há pássaros, nem insetos, animal nenhum habita. Apenas eu e você, enclausurados na mata. Com os olhos dilatados, aquela flor que fumamos. Rimos. A fumaça era rósea, depois disso, só as fantásticas criaturas da mitologia que nos cercava. Sátiros fizeram fila para lhe deixarem raras rosas de uma pétala só. Lótus dourados sob o sol do oriente. O último deles, nos deu um anel que nos permitia voltar para casa onde te abracei eternamente.


VII


Lembro-me da flor. Azaléias em jardins de doces avós. Gramados extensos e tiriricas, o chão macio. Ao lado, ela abençoa nosso amor. Me vê feliz entre tanto carinho. Sinto-a em suas mãos. A única mulher que já amei. Há um pouco de memória em ti. Esse sonhar alturas. Imagino se não foi ela que os juntou. Os soldados de brinquedo espalhados embaixo dos arbustos do jardim da avó. Ali desenhei nosso destino, aos olhos dela, minha santa eterna. Sob o perfume de azaleias. Eis que as flores dos nossos dias ainda desbrocharão.


VIII


Ele vem com a bicicleta rangendo. Litros de leite parados no cesto a frente. Leite e pão. As galinhas e porcos e os pintinhos e os cachorros latem no quintal enorme. Estamos sós, atrás de nós apenas os desafiadores peixes do lago. Casa, choupana, chalé, enfim, aconchegante espaço onde nos entrelaçamos. As flores d'água que ali residem soltam bolhas abaixo do nível do rio. Existimos apenas, enquanto leio poemas a ti. Deixo as violetas presas no vaso, sob o aroma da sétima garrafa de vinho que bebemos no frio do lago, no quente dos nossos corpos, enquanto Jarret dedilha lentamente algo entre a calma e a loucura.


IX


Há algo de lascivo no ar. O cheiro de sexo preso no ambiente não pode sair. É a consumação da memória de que somos felizes. Guardemos isso, sob as nossas narinas. O perfume do falo e das camélias se misturam. Estamos sós, presos e libertos, renovando tudo a nossa volta. Abriremos as cortinas para ver o sol, sairemos de mãos dadas a procura de novas essências e sabores, consumados em barris envelhecidos de carvalho. Sob essa redoma, minha e tua mão cruzadas, sob os outros cálices de conhaque aquecendo o peito. Há algo de lascivo no ar. O Cheiro de sexo preso no ambiente, não pode sair de nosso entorno.


X


Foram muitas dores, meu amor. Foram muitas dores, muitos pesares, muitos pêsames, foram muitas pedras no meio do caminho. Não podemos esquecer das flores que nos cercaram; agora perpetuam-se as rosas, os girassóis, os copos de leite em nosso quintal. Podemos ver as libélulas atravessando o mar florido. Sentados na varanda. Os pratos azuis com morangos em nossos colos. Açúcar. Você me deixa prender seus lábios. A volta anjos batem asas, ventam os seus cabelos, os pelos. Como é lindo te olhar ali. Frágil e feliz. O cravo que eu seguro é seu, e eu falo em bolos e casamentos, em espelhos e luares, em vinhos e frutas, aos quais amo, quando presos à sua essência.