segunda-feira, 21 de maio de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

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Flores

São flores que estão no caminho, rosas, amarelas, brancas, azuis, são flores. O caminho as vezes é torto, mas a semente que caiu da mão da senhora que andava a beira da estrada cresceu e deu frutos, ou melhor dizendo: flores.  Perfumes diferentes alastravam-se pelo caminho e chegavam ao céu azul, o caminho estava ao fim. E é agora que um novo caminho se segue, meu caminho se divide em dois, e ao longo da vida, eu é que deixo as sementes na beira da estrada. Perdida e calma, cansada, tenho que escolher entre dois falsos amores, são flores que apodrecem no caminho. Escuras, amarelas, sem cores, são flores.

Amor

Pulei do sofá ansioso, entregando-me nos seus braços, se alisava insistentemente ao som do melódico jazz de Nat King Cole, todavia, partindo seu corpo ao meio em uma curva retilínea buscava com as mãos em laço meu corpo, mexendo-se encostou seu beijo ao meu, e a pele áspera se encontrou a face minha, e finalmente, seu sorriso alargou seus lábios firmes, sempre sérios, fixou o olhar, e como se admirasse estrelas abriu a boca não deixando espaço para as palavras, pudor, pudores berrantes da noite silenciosa recuavam dando espaço para a falta, naquela insônia que não me permitia descansar, senti seu tronco balbuciando uma expressão, subiu lentamente encostando os pelos macios nos meus poucos, a força, entregue aos pequenos detalhes do dia, deixava de existir e doce, seu corpo se entregava à medida que com a língua sentia seu gosto, e da língua, da mão, e do corpo, o que parecia ser o fim do mundo era apenas o amor.

Habilidades

Me apaixonei por isso, ele passava os dedos com tanta agilidade no piano que sua voz era transmitida pelo instrumento, sabia quando queria dizer que me amava e quando estava bravo, as notas agressivas indicavam que eu deveria me calar no momento. Mas quando tocava Bachianas nº 5 via sua habilidade. seu sentimento, sua paixão. Era ali que ele se desmembrava, deixava as mãos e os braços trabalharem sozinhos enquanto se sentia de formas variadas, podia passar pelo ódio e pelo amor, pela saudade e pela plenitude, pela tristeza e pela alegria, quando saia do piano sempre usava os braços longos para me abraçar, não importasse o que estivesse fazendo, um beijinho na nuca e se afastava para descansar. Noites no bar. Pianos tocando. Jazz. Homens inusitados. Beijos na nuca. Doses de Gyn.

O cortejo

Caminhando em direção a tristeza, o cortejo passava, em pessoas as lágrimas correndo dos olhos envoltos por uma nuvem escura. As cores são poucas: preto e vermelho nas roupas, branco nas flores, e o azul do céu sem nuvens daquele dia de sol quente o suficiente para queimar a ponta de minhas orelhas desprotegidas pelo protetor solar. O suor escorria pelo rosto da viúva e abrandava o aspecto frio de sua expressão monótona quase invisível debaixo do véu negro. E chegando às cinco horas, pelo último adeus, fugiu o dia quente e a chuva que não ameaçava o tempo caiu lavando as tristezas e deixando para trás toda a vida restante no corpo morto agora encontrado no túmulo.

Esperança

Tudo por mudar. Não sei o futuro, mas sei que pensar no pior, só vai me fazer sentir-me mal. Pode existir uma luz. Hoje, amanhã. Ontem, nas memórias perdidas. Nos beijos roubados. Uma saída. Os sonhos movem as pessoas. Os sonhos e a vontade Os sonhos são sem nexo. A vontade os organiza. Um homem sem sonhos é medíocre. Um homem sem vontade é acomodado, passivo do mundo. Todos os dias flores nascem. Estrelas morrem. E pássaros cadentes permeiam meu amor. A esperança é o que nos move.

Momento


Sabe do que eu to precisando, daquele carinho, aquela barba na minha nuca, o beijinho doce, o aperto, to precisando de um flerte, de um homem, forte, to precisando é disso mesmo, eu cansei de tentar lutar por amores verdadeiros e políticos honestos, ultimamente ta valendo mais isso, o momento. Aquele abraço, Aquele!
Quero seu amor perdido e encontrado, sua voz grave e doce, seu abraço suave e forte, não preciso de definição, eu preciso é de sexo. Agora vou fazer minha barba pra ir trabalhar!

Seios e borboletas


Quantos seios são precisos para que o amor se concretize? Quatro. Seios soltos na noite, na cama, no vento, no quarto, na varanda, para que todos vejam. Seios loucos, amasiados, cúmplices. Seios vãos, sem ocupação. Livres da tortura masculina. Seios alegres. Quantos seios são precisos para que o amor se concretize? Porra! São quatro caralho! Caralho não, só seios. Seios e borboletas, que voam pelo jardim, a procura de suas companheiras, seios e amores, seios e belezas, seios e loucuras, seios e borboletas.
Aquelas duas moças por exemplo, são como pássaros voando na alegria dos olhares alheios, pássaros não! Borboletas! Coloridas e alegres. Percebível alegria no interesse masculino, desejo. Mas a alegria está em não ser desejada por eles. Mas por poder voar pelo jardim da amiga, a procura de borboletas. Que sejam como são, azuis, pretas, amarelas, brancas, roxas, vermelhas. Seios esvoaçantes na noite. Borboletas elásticas e contorcionistas. Seios e borboletas.

Rusticidade morta

Queria as estrelas ao meu céu, com sua língua invadindo minha boca, pertencendo ao escárnio de prazer, meu e seu, os olhos mudos. Como se ousassem falar, através de uma lágrima, ou um sorriso. Quero os amores que se perderam. Poder voltar no tempo e ver seu olhar me encarando de novo, queria que as estrelas engajassem nosso beijo e que a lua selasse nosso amor com um eclipse iluminado. Hoje o céu sorriu pra mim, como em um filme. As nuvens se foram, e ficou a limpidez. Deixa amor, tocar-nos, elas só vão nos unir mais e mais. Apresenta-se a mim. Aponta-me como seu. Estica seu braço por meu ombro e diga que me ama. Que está com saudades e que me perdoa, por ser tão infeliz longe de ti.

Estrelas no céu da boca

Queria as estrelas ao meu céu, com sua língua invadindo minha boca, pertencendo ao escárnio de prazer, meu e seu, os olhos mudos. Como se ousassem falar, através de uma lágrima, ou um sorriso. Quero os amores que se perderam. Poder voltar no tempo e ver seu olhar me encarando de novo, queria que as estrelas engajassem nosso beijo e que a lua selasse nosso amor com um eclipse iluminado. Hoje o céu sorriu pra mim, como em um filme. As nuvens se foram, e ficou a limpidez. Deixa amor, tocar-nos, elas só vão nos unir mais e mais. Apresenta-se a mim. Aponta-me como seu. Estica seu braço por meu ombro e diga que me ama. Que está com saudades e que me perdoa, por ser tão infeliz longe de ti.

Lágrimas e sonhos

Como o amor se comportou diante de mim? Sempre perguntei isso. Nunca entendi. Sempre alertei a vida com olhos fugitivos, encantei a noite com gestos perdidos de saudade, procurei maravilhas nos pensamentos. Precisei de você. Não estava aqui perto. Queria lembrar dos seus olhos chorosos de saudade, felizes pelo amor que passou, e que um dia, se quiseres, terá de volta. Os passos vãos pela madrugada em pensamento são fonte de consolação, já que escapo da realidade. Em minha cama, deitado, sem luzes, entrego-me inteiramente aos devaneios. Tentando encontrar você no pensamento. Precisando da verdade que há em ti. Queria encontrar respostas para minha pergunta sem sentido. Porque o amor se comporta assim diante de mim? Como quem foge da tempestade no deserto. Com quem vê um oásis de belas paisagens numa miragem. E como uma miragem, foge da realidade, causando essa sensação impossível. Essa emoção de deixar os sentimentos soltos, presos. Porque o amor se comporta assim diante de mim? Nunca entendi. Essa resposta deve estar além dos meus devaneios. Das miragens, das ruas perdidas e fantasiadas no meu pensamento. A única coisa que tenho a absoluta certeza no momento é de que essa resposta não está em mim. Eu devo sentir em ti o que aconteceu para que me entregasse de bandeja essa pergunta que redoma minha mente dia a dia, de noite em noite. Impedindo-me de dormir. Solicitando minhas forças noturnas para encontrar uma resposta nos sonhos. E para sentir em ti. Eu preciso estar em ti. Então por fim, aceite esta flor, construída de sonhos e lágrimas, mas que em dado momento, me permitirá conseguir penetrar seus sonhos, quando esboçar por mim um sentimento qualquer, e assim me ajudando a encontrar a resposta para essa pergunta que me atormenta. Porque seu amor se comportou assim, diante de mim?

Criando asas

Sabia que os olhos dela são como olhos de anjo? Eu não conheço olhos de anjo, mas um dia vi um em um sonho, melhor dizendo, uma. A noite passou tão depressa que eu nem ao menos pude aproveitar tal deleite. Nos meus sonhos os anjos tinham sexo sim. Eu sei que tinham. Por favor, não pense que sou tarada ou depravada. Eu só amo mulheres mais que homens. Mulheres que são para mim exemplo de sexualidade e beleza incomparáveis. São como a junção da lua e do sol num dia quente, primeiro o dia vira noite, mas depois o sol aparece incendiando as almas das pessoas desprotegidas. Sem carinhos. Amáveis. Elas ainda não sabem disso. O dia está quieto, a rua calou-se hoje e o copo de vinho a minha frente sustenta os devaneios da mente confusa, e volto a lembrar dos sonhos. Vi o anjo de novo, branco, e de repente estávamos nuas. A pele solta à luz. O sol atravessando as cortinas, e nós ali, paradas. Apenas nos olhando. As asas caíram e um brilho ofuscante pairou no ar
As felicitações são constantes, perdemo-nos nos corpos uma da outra, nos entregamos pela segunda vez. Mais uma vez afirmo. Anjos tem sexo. Após as esculturais formas se entregarem a mim de forma tão distinta. Ela vestiu suas asas, não como se veste uma roupa, era diferente. Voltou aos céus. Meu amor me tirou do transe. O amor é a verdade e a mentira presente em nossas vidas. É o entremeio. Volúpias no anoitecer introduziram meu terceiro encontro com o anjo. Flores na janela.

Transformação

Senti os colos tocarem-me, pedi para ser acomodado. Derrubei a tinta no chão. Elas se transformaram. As pedras queriam rolar, acabaram se misturando, transaram. Meu camaleão de estimação colocou-se diante do monumento desintencional. Ele se adaptou.

O reflexo

Entendo que o mundo está se apagando aos poucos. Conforme a luz do dia desaparece. A cada minuto. Hoje me olhei através de um vidro. Meu reflexo não é firme como em um espelho. É apagado. Como um fantasma sem vontade. Como um amor perdido na memória, o rosto parecia neutro. A boca apenas solucionava alguns mistérios de pensamento. No vidro, via outras pessoas com nitidez.  Mas eu estava perdido. Via o caminho pelo qual o ônibus percorria, correndo para casa, sozinho, vento no rosto. Dilúvio de solidão. O suor escorria com poucas aparições solares. Encanto.
Naquela viagem, perdido. Tentava encontrar um sentido. Porque aceitar um convite do beijo na noite que passou. Não via sentido no ato. Mas aceitei. O sol bateu de novo no rosto. Apontamentos. Os pensamentos criavam tópicos para que eu pudesse organizar minha mente solta. O reflexo continuava apagado. Via agora metade do rosto. Os pensamentos continuavam num frenesi de loucura e solidão.
Tentava me concentrar na música. Nada. Desisti do reflexo. Portanto, de mim mesmo. O dia passou. Ao chegar em casa dormi. O beijo não valeu tanto a pena. Poderia ter sido melhor. Robusto. Apaixonado. Faltaram os músculos, faltou o prazer. Faltou a loucura.

Paisagem

A praia e o mar me tomam, e me deixam perdido, sem saber para onde olhar, só vejo a luz que toma meus olhos do sol de dez da manhã, e o mar, a imensidão verde água que me atrai para dentro dele, não existe ninguém a minha volta, mas isso é o suficiente para que eu possa ser feliz, só admirar a paisagem. Uma prancha me é lançada pelo mar e me traz recordações, e em meio a minha mente, isolado e perdido, num frenesi de lembranças me mostro como sendo o que sou, um ser humano apaixonado pelo mar e suas histórias.

Solidão

Saí para me distrair do silêncio desta casa, parece que vivo em um deserto. O choro. As pessoas me olham e se afastam. Tudo permanece igual, não importa quanto tempo passe. A solidão é arrebatadora. É como se Deus enjaulasse o sol e a lua em extremidades opostas da terra, e deixasse-nos no escuro. Assim é meu coração.

Viva


- Eu te odeio com todas as forças do meu coração, filho da puta.
Virando os olhos e o rosto, deixou-se escuro devido a pouca luz que ali havia. Ocorreu-lhe brevemente que não queria assustar a moça, largou então o machado, que fez um barulho estridente ao tocar o asfalto. O carro parado. As luzes ainda acesas. A mancha no chão abaixo do corpo. Uma luta vazia. Corações partidos e remendados. Apostando tudo o que ainda havia para ser dito abriu a boca pronunciando suavemente.
- Largue dele e volte para mim.

Peitoril


Se quer saber, ontem eu vomitei a noite toda, e a culpa é sua! Sua sim, quem mandou me deixar a beira de um precipício sem saída. Pedi o fim porque não agüentaria mais tanta pressão. Casamentos encerrados para que fiquemos juntos. Crianças órfãs. Nesse deserto de solidão iriam se encontrar o seu corpo e o meu, juntos, lado a lado, enfrentando o amor da morte. Apenas abutres sobrevoariam nossas cabeças. Porque tudo isso tem que acontecer. Porque simplesmente não podemos ficar entre as opções. A liberdade para nós não existe mesmo. Não precisa ser a morte ou a vida, o amor ou a obrigação. Poderíamos apenas fugir. Deixasse a casa para trás, porque você desistiu tão fácil de mim? Chego a pensar que nunca fui nada. A casa pagaria a comida e o alimento escolar até que se resolvesse a idade das crianças. Sei que você pensava que iriam atrás de você de qualquer forma. Polícia; Família; Esposa; Exército; Marinha; Aeronáutica; Lampião.
Que maldição deixou em minha vida. A sina de vomitar nosso amor pela janela jogando escrotos na cabeça das pessoas. As pobres coitadas saem gritando. Maluco, Maluco, Doido e quando mostro meu pau na janela elas me chamam de jumento ou tarado. Estou assim! Sem juízo, por causa de você, a sanidade foi embora, e eu vomito mais. Os enjôos são freqüentes, mas não estou grávido, só com saudades. Por favor. Volte, Deixe sua mulher com as crianças, entraremos num acordo. Ninguém irá te matar! Fique tranqüilo. E daí que o pai dela é militar. Vamos escondidos a um outro lugar. Mande o dinheiro e pronto. Ninguém poderá te condenar assim. Família... Família... eis a condenação da liberdade, família e sociedade. Não permita que o mundo o deixe assim, infeliz, preso dentro de si. Eu to cansado! Cansado de ver-te assim, nem perdido, nem salvo. Cada vez que penso sobre isso volto a vomitar. E no vômito só sai água. Água insípida. Incolor e inodora. Sem vida. Só água. Ao mesmo tempo traz a vida e a tira.
Não to nem aí pro que vão dizer. Sinto-me como se nunca pudesse ser feliz. Como se tentassem a todo instante me impedir. Tem minutos que entendo sua posição. Eu não tenho ninguém. Você deixaria os filhos. O primeiro amor, que por mais que não fosse amor, ainda era alguém que te amou. Quem se ama não se deixa para trás. Entendo você, mas como vou vomitar em paz? Como vou parar de vomitar? Por favor, Não se recolha de mim, pelo contrário. Se abra. Eu olho as noites e os dias passarem pela janela, vejo as pessoas e me sinto um vagabundo. Sem ofício, sem visão. Sem motivos para entender que estou amando sem ser amado. Deixando de lado as vestes e me aproximando da lua, nu, ouvindo os gritos, Jumento, Tarado, não me deixe assim. Vou me humilhar sim, perder-me no peitoril extenso e jogar lá de cima excrementos.
Não to nem aí. Quero apenas parar de vomitar, já que você não está aqui, vou parar de sofrer por sua causa. Eu vou é dar que eu ganho mais, quem sabe me apaixono por outro alguém. Ou então desistir de vez e deixar passar o sofrimento dos meus dias bebendo vinho e escrevendo as loucuras que vem a minha cabeça, pichando paredes e entretendo a vida com a morte, e atropelando a morte com a vida.
Eu olho os comprimidos ao lado do vinho no criado mudo, vejo a meia luz do meu quarto abraçando as cortinas encurraladas no canto da parede e me vem uma vontade imensa. Depois dessa longa discussão com o vazio, me dou o direito de morrer.

Camaleão


Este seria o último dia normal da minha vida. Dormi, acordei, trabalhei, almocei, trabalhei, jantei, bebi, ouvi música, assisti um filme qualquer que estava perdido na estante, li um trecho de um novo livro, melhor dizendo, o livro não é novo, mas o meu exemplar sim. E fui me deitar. A noite seria comum, exceto por um detalhe. Naquela noite me transformei pela primeira vez.
Eu sempre odiei répteis, anfíbios, insetos, crustáceos e essas coisas nojentas, mas quando me dei conta, uma cauda estava crescendo em mim, verde e cheia de rugas e esporas estufadas para fora da pele. Logo as pernas começaram a mudar de forma. E não sentia dor. Era tudo normal e higiênico. Não havia nenhuma troca de pele. Como mágica as partes do meu corpo foram ficando verdes, a minha língua cresceu em cinco minutos, 40 centímetros, e o meu céu da boca quase foi parar no teto do crânio.
Os meus olhos se mexiam sozinhos, e a sensação que tinha era de que podia ver duas televisões ao mesmo tempo, em canais diferentes. Olhava as duas paisagens dos quadros pendurados, um em cada parede do quarto. Logo, enquanto um olho ficou admirando a paisagem, o outro saltou para ver a imagem de Maria ao lado de Jesus na cabeceira a frente da cama.
Os meus braços não se mexiam como antes, e eu já não conseguia dormir de barriga para cima, fiquei ali parado de pé, sobre quatro patas rústicas e verdes. As orelhas se avermelharam, e eu corri até o espelho. Era um camaleão.
Dali em diante, durante todas as noites a transformação se repetiria. E eu me acostumaria. Como estou agora. Contudo, algumas coisas me fizeram sofrer, com as transformações indesejadas, quase fui internado em um hospício ao procurar um médico, e um padre me fez ler um ritual de exorcismo. Não podia mais ir a festas, nem a bailes. Dançar a noite toda era impossível com uma causa do tamanho do meu corpo. Não podia sair à rua. Pois seria tomado pelas autoridades competentes, e no outro dia preso por seqüestrar um animal raro e me colocar no lugar dele.
A vida havia mudado para mim.
Queria pensar um lado bom para essas mudanças. Queria entender porque essas mudanças me permitiram, enxergar mais e falar menos, mesmo que houvesse uma língua grande, que eu evitava colocar para fora da boca, pois grudava em tudo. Aprendi a ouvir mais.
Ouvi mais música. Li dois livros ao mesmo tempo. Mudei de cor. Do verde para o azul, para o amarelo, para o marrom, para o vermelho.
Porque eu mudei tanto? Porque eu posso ainda mudar mesmo depois de mudado? Essa metamorfose que se encaminha todas as noites, com a vinda da lua, me fez pensar, o porquê de mudanças serem boas. Porque as pessoas seguem caminhos distintos, se ainda se amam e querem ficar juntas.
Porque as belezas da arte se transformam com o tempo. Porque tudo se transforma. Porque o mundo se transforma todo o tempo. Porque as transformações são necessárias. Porque lembramos do passado que desdenhamos há muito tempo com saudade. Nós escolhemos isso.
Como camaleão, pude ficar invisível diante das cores de qualquer ambiente e penetrar em diversas vidas. Pude ouvir pensamentos ínfimos e profanos, sedentos de amor, ódio, saudade, esperança, tristeza, alegria, e uma vontade imensa de mudar, de ser invisível ao mundo, como eu, como um camaleão qualquer.

Melancolia


As paredes estão melancólicas hoje, tudo cinza, sempre foi assim, e esse ar bucólico sempre me acalmou. Contudo, nestes últimos dias tenho entrado em desespero. Não sei direito como explicar o que sinto, sempre que vejo esses meninos na rua, entro em um frenesi de sentimentos consecutivos, que se misturam ao final, primeiro sinto a atração, aquele amoroso sentimento que traz a vontade de abraçar, de sentir a pele quente sobre nós. Depois vejo sobre mim uma vontade imensa de amar, de sentir o beijo sobre minha pele. Por último a depressão, causada pela certeza de que nada disso acontecerá.
A cada dia me sinto mais só. Todos esses que olho tem amores complexos, encadeados por uma relação firme e duradoura, há anos, me apaixono todas as semanas. Cada vez que isso acontece, a depressão volta, e cada vez que passa me apaixono de novo, e o ciclo recomeça. Eu não resisto àquele sorriso que por si só alegra meu dia.
Todos temos isso, todos sentimos isso. Quando saímos às ruas, e um belo sorriso nos alegra o dia, nos apaixonamos... Nos decepcionamos. A decepção é a conseqüência primária do amor.
Não existe amor que não gere decepção. Segue essa verdade nos caminhos da vida. Por isso, nos últimos dias não tenho saído muito, tenho evitado os sorrisos. Os desastres pequenos da alma. Fico me privando a ver filmes velhos que compro a frente do apartamento, de um senhor pomposo, e a assistir o mofo da parede crescer.
Isso me faz feliz. Pelo menos tenho tentado acreditar nessa falsa verdade. Mesmo assim me inclino contrariamente à vontade da razão esperando esse amor incrédulo que existe apenas em filmes e na minha cabeça inocente.
Quanta monotonia cerca essa vida embalada ao som de tangos antigos, de boleros, de valsas. As paredes cinza me assistiram dançar com a almofada. As ações se repetem nessa escuridão dalmífica. Sem sentido.
De vez em quando sento-me diante da janela,  e do parapeito avisto as pessoas que se movem diante do transito logo abaixo. Penso em pular. Penso em amor. Penso em esperança e em oportunidade.
Continuo sozinho, esperando atitudes. Rezando aos santos pendurados na parede da vizinha, pedindo um amor de verdade. Tudo que me vem, são noites sólidas, quentes frias. Amores. Lembranças do passado, dos amores idos, matados.
É então que lembro. Devo deixar as lembranças seguirem seu caminho, e construir de novo a minha estrada. Mas quando estava saindo à rua, pela primeira vez depois de duas semanas enfurnado no apartamento. O novo porteiro do prédio olhou em meus olhos e sorriu.

Um soldado extremista


Logo que ele chegou à casa, foi recepcionado por uma placa azul e vermelha, luminosa. Árvores abrandavam a casa no meio da floresta. Assim que entrou, viu mulheres semi despidas, e uma senhora com seu charme inglês. A pele esbranquiçada pelas luzes, o batom forte. Sem pensar subiu as escadas encarando-a. Madame Ângela Bernarda.
No meio de uma explosão de emoções, homens de guerra freqüentavam a casa para se aliviar. Mas aquele homem era diferente, só foi porque havia bebido muito. Entre braços e volúpias, uma explosão de prazer. Porém viu-se numa dualidade de sua existência, como se todo o juízo e destreza tivesse saído no gozar do colo de Madame.
Ele tinha um amigo, um único, que sempre estava ao seu lado no campo de batalha. O amigo se chamava Heifield. Era fiel, bondoso, mas safado. Ia toda semana à casa de Madame, saia com mulheres, vezes namorava, vezes só usava certos dons que recebeu com a vida. Heifield era solteiro, não havia deixado mulher em casa, diferentemente dele. 
Agora estava preocupado, depois de ter sentido o prazer acolhedor da dona do bacaré, sentia-se em dúvida, seus sentimentos vagavam num ar despreocupado do espaço, suas emoções estavam como estrelas cadentes que perderam seu rumo e estão trombando uma nas outras.
Sentimentos soltos ao vento. No campo de batalha. Silêncio. Guardava as armas nas costas e no braço, pernas apoiadas no barro. Heifield do lado, apoiando-o. Não conseguia parar de pensar em sua esposa, grávida, de oito meses, prestes a parir seu filho.
Não conseguia parar de pensar na traição. Madame Ângela Bernarda, destruindo famílias a duas gerações. Esse devia ser um lema, pensava ele. Por mais que tentasse esquecer, o pensamento sempre voltava ao mesmo ponto. Fuzileiros apareceram, viram Heifield, atacaram. Atrás da bancada de sacos de pedra, estavam protegidos, e revidaram o ataque. Mais homens mortos. Por quem estou matando? 
Saíra do seu país, defendia-o da guerra, para que essa não chegasse até sua esposa, sua família, seus amigos. E estava fazendo um bom trabalho, mas pensava. Quantas famílias eu já destruí, só nesse inverno? Heifield estava calado. Depois do último ataque ficaram silenciosos. Não só para se proteger. Mas a cada tiro disparado, um passo a mais perto do inferno. 
Com o silêncio, sua mente não conseguia para de pensar em Madame Ângela Bernarda, ao mesmo tempo que não parava de pensar em sua esposa. Decidiu enfim.
Tornei-me assassino, matei homens, famílias, amores, vi corpos estremecerem na lama, vidas sem dignidade, matanças em vão, ao invés de descansar, bebi, traí a única pessoa que me perdoaria por ter me tornado um assassino.
Dormi com uma prostituta, velha, agourenta, exploradora. Era mais fácil não existir, seria mais fácil não ter nascido.
Já não há vida lá fora, todas as manhãs quando acordo vejo o cinza dos céus e da terra, barulhos amedrontáveis. Tiros, bombas, silhuetas desesperançadas.
Finalmente, é a hora. 

Caro amor,

Tenho pensado enfim, na condição do nosso amor consumado. Os frutos estão chegando, a vida faz parte da nossa alma. encontrei uma razão para existir onde não havia esperança. Lutei pelo país. Perdi meus Escrúpulos. Traí. 
Na amedrontada guerra, que parece nunca ter fim, homens se entregam à morte como quem não consegue apoiar a própria vida.
A minha razão de viver se foi. Junto com uma explosão de furiosas emoções, que me lançaram no perdido mar de escuridão que é a tristeza. 
Um outro tempo que jaz a melancolia que só aqui existe.
Entre as tristezas e as lamentações, te entrego meu amor, através dessa carta, que abençôo com meus lábios poluídos. Um beijo.
Espero que consiga sentir o cheiro desse lugar. Para que se de tristeza chorar, sua lágrima possa me retirar a culpa e libertar minha alma. Pois só assim serei livre.
Me liberte.
Adeus

Com amor, seu ex futuro pai.

Dobrou a carta, guardou-a, no outro dia, entregou no correio militar. Deu um abraço tão forte em Heifield que o fez sentir medo. Guardou o amor, dentro de si e nas estrelas escondidas pelas nuvens de poeira. Abrandou o coração. 
Naquele dia foram atacados. 
Antes que uma bomba chegasse a atingir os militares e Heifield, saltou no meio do campo de batalha. Tiros. Gritos. Respirações curtas. Um filme. O sol. um túnel com anjos. Tudo ficou escuro.
Heifield chorou. Sentou-se, largou a arma, e não conseguia mais pensar.
Dois meses depois, recebeu a carta de seu amigo, já em casa, duas semanas após o fim da guerra, a carta retornou, e como ele já se fora, entregaram-na a Heifield que conseguiu ler entre alguns borrões de mãos molhadas.
Destinatário (a) falecido (a).

Viagens em Freud


Nem todos os sonhos do mundo são realizáveis. Naquele dia Guilherme deixou seus afazeres cotidianos para dormir, já cansado dos extremos violentos de suas atividades pediu para si mesmo um bom descanso. No dia, lutava. As memórias de suas habilidades estavam presentes nos socos e chutes esporádicos e instantâneos, em frequência ao dia de combates, vinha a noite, dotada de reflexão, apaixonante em seus beijos, abraços e carícias com o primeiro último amor. A euforia do dia era transportada para um lugar quase extinto, ou no mínimo deixava se encobertar. Vários sonhos de amores vãos embalavam a mente dele enquanto se enamorava com a amante. De dia a brutalidade, mesmo que sem violência. De noite a calmaria do abraço. 
Quando se deitou, demorou a fechar os olhos, e se deparou com um mundo novo. Um mundo colorido, cavalos azuis, pássaros verdes, amarelos, rosas, vermelhos. A grama parecia mudar de cor a cada olhada, pensei estar na fantástica fábrica de chocolate, mas a grama não tinha um gosto exatamente doce. Embora os unicórnios dali gostassem dela, andavam em bandos, ao lado dos carneiros e bodes livres. Não estava em nenhuma fazenda, nem em algum outro mundo, tudo era igual demais para isso. Não haviam cercas, Tudo estava em paz. Não vi nenhum humano, era só eu e os unicórnios brancos de chifres brilhantes. Caminhando na paz de um sol agradável, a mente se solta deixando-me voar na atmosfera mágica, e passando de terras em terras ia conseguindo ver a extensão desse mundo novo. Vi uma macieira e voltei ao chão, precisava me alimentar. Ao descer recolhi a maça mais vermelha do topo da árvore a li fiquei a comê-la. O que estava acontecendo? Queria entender. Um dos pássaros que ali estavam, na árvore, parecia querer falar comigo. Era todo azul e tinha algumas plumas manchadas de vermelho. Se parecia muito com a figura da fênix que conhecemos, aliás, lá também existiam algumas dessas aves maravilhosas. Era a extensão de um mundo que não poderia existir onde vivo. Ouvindo o pássaro conseguia me aproximar daquela extensão, e me sentia parte daquilo. Ali voei. Senti, vivi. Quando o pássaro voou em meu ombro, senti um abraço completo. Era como se o mundo ali tivesse parado. Os barulhos pararam. As aves pararam, e o mundo se desfez. Abri os olhos. Sonho estranho! Passei alguns dias me sentindo mal por isso. Queria saber por que aquele sonho havia acontecido, nunca desejei ver nada daquilo. Tenho um professor de literatura que se apaixonaria por um mundo assim. Sentei-me na cama, eram duas horas ainda, eu tinha pela frente mais da metade da noite. Mas não me sentia mais cansado, aquele sonho pareceu lavar minhalma, e retirar de meu corpo o cansaço. O que aquele pásssaro simbolizava? Foi o abraço mais aconchegante que já senti. Talvez não pertencesse àquele mundo. Talvez fosse uma extensão dos meus sentimentos. A forma como ele surgiu foi interessante. De uma explosão que veio do nada. Eu conheço uma pessoa que explode a todo o momento, e me causa um grande desconforto. Mas não me abraça após isso. Pelo contrário. A explosão é o sinal do maior afastamento. Não posso dizer aqui quem é. Mas eu acho que entendi meu sonho. Devo criar meu próprio mundo. Sem os medos do passado, e com as perspectivas do futuro. Pois é ali que a liberdade se fará verdadeira.

As divagações de Oliver


Aquele menino sempre fora estranho, se recolhia no meio dos outros, se encolhia quando via muitas pessoas, falar em público era um problema, na verdade, o simples ato de falar era um milagre, não chorava, não sorria, não era possível vê-lo triste, Oliver não expressava nada. Seu rosto era apagado como o de um fantasma. 
Era um problema conhecer seus pensamentos, pois não tinha amigos, não conversava com ninguém, desde pequeno os professores achavam o comportamento doentio. Oliver ia frequentemente a médicos, psiquiatras, psicólogos, mas todos diziam a mesma coisa, o menino está normal. Não há com ele nenhum problema. Os sinais vitais estão bons, as taxas sanguíneas também, a mente funcionava perfeitamente.
Oliver não falava com a mãe, nem na hora de pedir comida.
Oliver apenas apontava. Quando via um copo com água e estava com sede, erguia o braço fino e esticava o dedo em direção ao objeto.
A mãe rezava, não ficava brava com o menino, pois ele nada fazia, ela pensava que ele na verdade nunca aprendera a falar, por algum golpe divino, algum pecado que ela cometeu e que Deus nunca a perdoara, por isso o filho nasceu assim, meio tonto.
Oliver sequer se sustentava em meio as pessoas, não fazia esforço nenhum, gostava de ficar sozinho. O que acontecia com o menino?
É difícil pensar como uma mãe pode achar o filho meio tonto, até porque não é coisa que se pense, não existe meio tonto, ou é tonto inteiro, ou não é.
Havia uma explicação para aquilo tudo. Durante a noite, Oliver se levantava e falava sozinho, até cansar, sobre tudo o que acontecia com ele durante o dia. O menino não sabia se expressar na frente dos adultos, mas usava as palavras com uma sabedoria imensa. Já diz o ditado, não tem nada há falar de bom, cale a boca. Não sei se isso é ditado de gente. Todavia já o ouvi de muitas bocas.
Conversava com seu amigo imaginário, contava tudo a ele. Seu nome era Miguel. Era um menino loiro, tinha entre 16 e 17 anos. Oliver não sabia ao certo. Tinha olhos azuis e uma feição amena, parecia bondoso, e era. Na sua mente existiam apenas imagens de flores e paisagens, algumas histórias de um mundo distante, Miguel se sentava numa cadeira de balanço velha, comida pelas traças numa das pernas, e com um dos apoios de braço torto.
A cadeira rangia. Oliver pensava em coisas como o sol nascendo, a lua se pondo, as flores se abrindo, e seu coração pulsando, queria saber como o mundo funcionava. Porque as pessoas conversavam tanto? Não tinha nada a dizer. Apenas observava. Por isso era calado, não conversava com a mãe, porque em certo momento da vida tinha medo de que ela ficasse brava com ele, por nunca ter falado antes, e isso só se prolongava.
Esse não era o único motivo para falar, ele tinha medo da mãe, se assustava quando ela estava a bordar com as amigas nas quintas feiras a tarde, servia o chá, calado. E a mãe, segurando um cigarro esbravejava a fumaça por todos os cantos da sala. Fofocava. Falava da vizinha, da tia, da sogra, da irmã e quiçá da mãe em alguns momentos.
Miguel conversava com Oliver sobre coisas que a ele interessavam. As histórias do Capitão América que lia todos os dias nos quadrinhos velhos da biblioteca da casa do senhor Manoel, da esquina. Ele tinha tantos livros. Oliver ficava perdido. Interiorizava-se nos pensamentos e viajava, conheceu dentro daquela sala o centro da terra, os dinossauros, as flores, os vampiros e lobisomens, mas o que mais encantava o menino era sem dúvida aquela figura com um escudo de estrela.
Miguel sabia de todas as histórias, e por isso Oliver gostava de conversar com ele.
Oliver e Miguel eram mais que amigos, havia entre eles uma relação estreita, era como se um fio de seda saísse do coração de um e se prendesse ao outro.
Não havia romance entre os dois, só uma bela amizade. Oliver tinha os olhos pretos como jabuticabas maduras e brilhavam no escuro como os olhos de um felino. As mãos delicadas e perfeitas, o corpo magro, a pele branca, e os cabelos negros. Na cabeça, pensamentos que flutuavam num mar de perdições imaginárias. Ora passavam pelos olhos de Oliver como trens, ora apareciam como flashes de sua criatividade aparente.
Que Oliver não falava era fato. Mas no seu quarto, haviam esculturas de barro e pinturas que deixariam qualquer adulto formado em arte impressionado.
A mãe reconhecia o talento do filho, e tentava a qualquer custo vender as obras dele na venda do tio, numa esquina de um bairro pobre da cidade, prometendo a ele parte do dinheiro. Oliver nunca concordou.
As pinturas retratavam o rosto e o corpo de Miguel. A mãe conhecia a solidão do filho, então pensava naquilo como pura imaginação infantil. Como Oliver nunca tinha dito nada, para a mãe ele ainda era uma criança inocente. 
Quando pintava, as imagens se criavam nas tintas, nos pincéis e nas telas que sempre ganhava de presente da mãe.
Miguel era cada vez mais real, as pinturas davam vida a aquela figura imaginária.
Um dia, Oliver brigou na escola. Chegou com raiva em casa. Ignorou Miguel e sua voz doce. Cobriu-se e tentou dormir. Conseguiu em certo momento. Depois que Miguel desligou a matraca.
No sonho, ele estava andando em um campo verde, parecia um pasto que tinha visto outro dia no passeio com o tio, só que desta vez sentiu o cheiro doce e verde da grama. Conseguiu tatear algumas margaridas que brotavam em meio ao capim, viu os cavalos correrem, e Miguel aparecer. 
Correu em direção ao menino, como se fosse seu irmão mais velho, tentava abraçá-lo.
Miguel sorria calmamente para Oliver. O aceitou com seus braços, e seu queixo pousou em cima da cabeça de Oliver.
Os dois ficaram ali por alguns minutos.
...
- Oliver! Oliver! Acorde! Tem que ir o dentista hoje!
Oliver odiava o dentista, ficava tentando fazê-lo falar a qualquer custo. Foi. Voltou. Ficou em casa, na cama, ouvindo música, estirado, parecia esperar que alguém batesse a porta. Na verdade, não conseguia parar de pensar no sonho. Sentia-se tão bem, olhava para a cadeira de balanço feita pelo avô, já falecido. E pensava em Miguel.
Não sabia se ia esquecer o sonho tão cedo. Os pensamentos corriam como nunca, pintou um abraço, escondeu-o no meio do caderno para que a mãe não visse.
Olhou para o teto do quarto, sua mente viajou pelo infinito, ouvia o ranger da cadeira de balanço, viu uma flor rosa voar para dentro do quarto com o vento. Era uma flor de macieira, havia uma no quintal, e como o quarto de Oliver ficava na parte superior da casa, era fácil ver o vento empurrar folhas para dentro do quarto. Oliver não se incomodava. Gostava de sentir o cheiro das flores aromatizando seu leito noturno. No agradável calor da tarde Oliver imaginava o abraço.
Dormiu. Acordou.
Foi à loja de música no outro dia, estava fechada. Foi, então, para a biblioteca do senhor Manoel, era domingo e não tinha absolutamente nada para fazer, não havia mais conversado com Miguel. Ele não aparecia há dias.
Tentava passar o tempo, mas o hábito de conversar com Miguel a noite só estava piorando as coisas, agora, além de não dormir, estava sozinho.
Caminhando para a escola no outro dia, viu Miguel descendo do ônibus, começou a pensar em milhões de possibilidades para sua visão. Miguel era real todo esse tempo? Será que estava com tanta saudade daquele amigo distante que o estava vendo em outros lugares.
As perguntas foram respondidas pela professora de português na sala. Um aluno novo, chamado Gabriel havia entrado na turma.
Oliver estava preocupado, os cochichos voavam para cima do menino bonito, sobre sua esquisitice. Queria se aproximar do menino, mas como sem falar? Olhava diretamente para Gabriel, sonhava com um abraço carinhoso. Era isso, Miguel saiu dos sonhos para entrar de vez na vida de Oliver.
Oliver ainda estava tentando ser sensato.
Observava, mas não conseguia distinguir nenhuma diferença aparente, o coração latejava, as pupilas se abriram de tal forma que a luz que atravessava a janela quase impediam o menino de copiar a matéria escrita no quadro.
Gabriel era Miguel, ou Miguel era Gabriel, que confusão!
Oliver nada disse naquele dia, as expressões noturnas sumiram também.
Oliver rezou, pela primeira vez.
No outro dia, novamente, tentava ser normal, mas não conseguia, na aula de educação física, Gabriel não quis jogar futebol com os outros meninos. Oliver treinava seu xadrez sozinho, como sempre. Gabriel se aproximou, parou na frente de Oliver.
Levantou o braço com os pelos aloirados e movimentou os dedos compridos em direção ao primeiro peão do lado adversário de Oliver.
Sentou-se
Curvou a coluna e apoiou o queixo nas mãos.
Oliver disse pela primeira vez.
-Quer jogar?
A professora assustada ligou imediatamente para a mãe. 
O jogo seguiu, Gabriel movimentava as peças com cuidado, Oliver tremia, o jogo começou a ficar emocionante, a professora parou ao lado, meio distante, tentando observar tudo, para ver se conseguia ouvir mais alguma palavra.
Gabriel levantou a mão em direção a rainha e apontou o caminho para o rei de Oliver.
- Xeque!
Oliver mudou um peão de lugar e livrou-se da jogada, todavia o cavalo de Gabriel estava posicionado.
- Xeque!
Oliver não via mais saída, moveu a rainha, e a perdeu, Gabriel moveu um peão, Oliver comeu o cavalo com o rei. Livrou-se do xeque aparente. Gabriel moveu um bispo, deixando Oliver a um peão da perda. Oliver moveu o cavalo. Gabriel moveu outro bispo deixando Oliver em xeque novamente. Oliver, estava sem saída, não havia mais o que fazer, bastava se render. Moveu um peão.
- Xeque mate.
Oliver sorriu, e Gabriel também. A professora estava atenta. Os dois se abraçaram. Gabriel era bem mais alto que Oliver, pousou queixo na cabeça do menino.
- Não se preocupe, estou aqui.
Oliver deixou cair uma lágrima, anos de solidão haviam acabado.
Miguel existia, ficaram amigos, conversaram, Oliver falava em casa agora, quando a mãe perguntava, porque nunca tinha falado nada antes, Oliver respondia que não conseguia.
Um dia saíram juntos, três anos depois, Gabriel tinha 20 anos, Oliver 18.
E naquele dia, as margaridas do campo dos sonhos de Oliver foram vistas de novo.
O que Gabriel tinha na cabeça? Ainda hoje é uma dúvida. Os dois ficaram amigos. Gabriel e Oliver passaram muito tempo juntos, todos os dias, entraram juntos na faculdade, no mesmo curso, se formaram, são professores na mesma escola, que é deles. Moram juntos. São amigos. Apaixonados um pelo outro, a cada dia a paixão é renovada, Oliver nunca mais se calou, mas não abria a boca fácil, ele era quieto por natureza. Quando olhava Gabriel, as palavras se transportavam pelo ar, através de seus olhos negros brilhantes.
Oliver se casou, têm dois filhos, um deles não fala.
Gabriel se casou, têm duas filhas, uma delas nunca disse uma palavra.

Observando o tempo

O sol está quente hoje, o dia parece nublar-me, faz-me sentir estranho, como nunca sou, as árvores que pairam sobre o vento fraco da manhã quase tocam o chão desconsoladas, e o amor que encontro está apenas no tempo, perdido, no passado ou no futuro.

Reflexão

Quando a vida se faz de forma teatral, a verdade acontece.

Visão

Vi um homem que estava andando pela rua como quem anda na beira do mar vendo o por do sol, sem pestanejar, deixando os pensamentos viajarem, e conduzindo sua alma a um abismo de sentimentos andrógenos...

Confusão

Quando a noite vira dia e o dia vira noite minha cabeça apenas vira.

Viagens sem maconha I

Os sapos pastavam. Mas sapo não pasta, sapo pula, vaca pasta! Contudo aqueles sapos pensavam que eram vacas, estavam confusos. Porque até para os sapos os tempos estão difíceis. Outro dia vi um menino que disse ter visto uma vaca pulando na beira do rio, deve ser a lua ele disse! Tempos estranhos... Aquele menino era sábio...

Viagens sem maconha II

Sempre durante a noite, eu me deparo com algumas luzezinhas que ficam voando descompassadas de um lado a outro, sem ritmo, sem entrosamento e ninguém sabe o que elas são. Alguns físicos ou químicos iriam explicar isso como um fenômeno do calor, ou o período em que meus olhos estão se adaptando a escuridão local, abrindo as pupilas. E eu digo a esses idiotas. Isso não é pupila ou um gás de qualquer natureza. São duendes! Eles estão procurando um meio de se comunicar, pra me avisar que há um grande tesouro por perto. 

Viagens sem maconha III

Eu estou sentindo as estrelas invadindo minha boca, como se quisessem procurar abrigo, se esconder de algo desconhecido, mal sabem que estão entrando num labirinto sem fim. Mas se é pra deixar estrelas invadirem minha vida, que sejam cadentes, pois elas viajam as galaxias em um espasmo de amor. 

Viagens sem maconha IV

Meu querido amor, vamos deleitar nossa alma na piedade divina, abrandar nossos corações com o amor de Deus? Deixar-nos inundar por essa sensação que nos percorre, a cada abraço, a cada toque. Porque toda vez que te abraço sinto o amor de Deus nos tocando? Para mim existe uma pequena semente divina dentro de cada um de nós, e a minha semente germina quando chego perto de você. 

Pensamento enevoado


A perfeição é só uma descoberta, não uma procura!

Os meios e os fins

Sabe, você me trouxe esperança, aquela já perdida entre os meios e os fins, aquela esperança marcada com o poder da fé que havia perdido e recuperei num piscar de olhos, quando uma estrela cadente passou pela janela iluminando a foto apagada do seu rosto molhado. Sabe! Os sentimentos confusos não se deixaram mais abalar, e agora estão claros, posso lê-los como as palavras de um poeta, que se deixa entender ao longe, deixando dúvidas. Posso amar-te um dia. Porque vejo que sabendo ou não, você me contagia. E isso, é sim uma prova de amor, que não e amor, mas que pode ser. É sim um sim magnífico e abençoado pelas luzes das estrelas que se colocaram no céu a disposição dos nossos olhares curiosos!

Mutação


Nas grandes decepções da vida, sempre encontramos uma saída, e na maior parte das vezes ela é mental. A fuga da realidade permite ao ser humano se esquivar de sentimentos dos quais não estamos prontos para conhecer e lidar. Entre as muitas desilusões, o amor sempre é a maior causa das grandes tristezas humanas. Em toda a história da humanidade encontramos muitas depressões amorosas que criaram guerras, mataram mentes brilhantes e afogaram celebridades num mar de solidão e boemia. Pessoas que vomitaram a finesse durante toda a vida, em toda sua esplendorosa civilização deixaram que os sentimentos mais puros entrassem em seu coração. A Luxúria e a Loucura. A loucura para muitos não é um sentimento, mas podemos reconhecê-lo como uma mistura de sentimentos andrógenos, em mutação, procurando forma definida e que se manifesta portanto, através de impulsos elétricos mentais, transformando-se assim em uma doença. A loucura é um sentimento tanto quanto o amor é uma doença. A luxúria também pode ser classificada como o resultado da mutação de egoísmo, amor e carência, estamos lidando, portanto com dois sentimentos andrógenos, não definidos, classificados até então como uma prática e uma doença. Porque não a prática da doença ou a doença da prática? Consideremos que a verdadeira face humana encontra-se perdida na imensidão da glória divina, para o bem de um Deus, e para o amor de um homem.

Dialeto ensaístico da paixão


Quero as noites longas, a pele ávida, luz que se entremeia pelo caminho da vida, através dos meus olhos enevoados pela lágrima, a lágrimas que é fruto da paixão, do amor e do carinho que brota entre mim e ti. Quero um abraço, um amor, uma noite, um beijo prolongado, quero tudo que pode me dar, e nada que possa ofender-nos, quero que nos deixem em paz, que deixem que sejamos belos, juntos, sós, únicos no mundo feito de guerra  e paz. Que sejamos a paz, e a guerra, que sejamos tudo e nada, que sejamos apenas o contrário, um do outro, os opostos que se atraem no ditado popular. Quero as noites ávidas, a pele longa, o entremeio do caminho da luz da vida, através das enevoadas lágrimas dos meus olhos. Paixão que é fruto da lágrima, do caminho que brota entre mim e ti no amor, quero uma noite de beijo e de abraço prolongado, quero dar tudo que posso, e que não nos ofendamos, quero que a paz nos deixe, que sejamos belos, separados, sós, únicos, mas ainda assim juntos. Num mundo de guerra e paz, que sejamos a guerra, nada e tudo, que sejamos o igual, o combinado, para que nada nos empeça de ficar juntos, nem o ditado. No fim das contas, o que importa não é o que somos, mas sim o que queremos ser.

Poesia que dá fome de sexo


Leite com poesia
Café com poesia
Leite com café fazem sexo

Pão com poesia
Manteiga com poesia
Pão com manteiga fazem sexo

Arroz com poesia
Feijão com poesia
Arroz com feijão fazem sexo

Queijo com poesia
Goiabada com poesia
Queijo com goiabada fazem sexo

Chocolate com poesia
Coca cola com poesia
Chocolate com Coca Cola fazem sexo

Melhor parar porque sexo engorda.

Saber do amor


Saber do amor
Não é suficiente
Não é muito importante
Não é essencial

Saber do amor
Não é entender o homem
Suas percepções filosóficas e psicológicas
Não é estudar

Saber do amor
Não é entender alguém
Não é ser psiquiatra
Não é adorar, dedicar.

Saber do amor
Não é vender a alma ao diabo
Nem à Deus
Nem ao outro

Saber do amor
É saber de você
É saber daquilo que não se sabe...
conhece-te a ti mesmo
É saber da sua alma e emoção
E entender o seu coração.

Querer querer



Quero amar, quero amar,
não adianta me enganar,
eu sei quando diz a verdade,
eu sei quando mente.

Quero sentir, sentir você,
a nuca louca, nunca vi assim,
pedindo os lábios de sedução,
um cafuné com o queixo.

Quero abraço, quero beijo,
amantes no amparo,
na relação estendida,
no beijo provocado.

Quero você, nada mais,
nada menos, nada igual,
tudo eu quero, o beijo, o abraço,
o corpo, o carinho e o entrelaço.

Por nós


Meu amor, desperte sua atenção em mim
transforma o sorriso em alegria,
a seriedade em paixão
o contato em carinho.

Querido, abranda minh'alma com a alegria
encosta suas mãos em meus ombros
puxa-me para o abraço
beija-me

que sua doçura me encante mais
que o que eu tenho de bom seja sua motivação
para me amar mais, cada dia mais
que nosso amor, que ainda não existe seja o mais forte entre os amores.

adota-me, como irmão, como amigo
como louco filho deturpado
e eu te aceito, como brando e terno companheiro
que de luzes fará ser visto nosso amor, para que seja encontrado.

Os dias


Passam os dias em frente a casa
o sol e a lua dividem a luz
perfeitas árvores se encontram em derradeiras brisas
e o meu amor nunca mais será o mesmo

Quando o sol se dispõe,
nada permanece igual.
as coisas ficam felizes
e meu amor desperta para ti.

Besteiras ao pé do ouvido



Amor meu, coma-me
Supunha suas entranhas em mim
E goza-me por inteiro.
Faz-me seu agora.
Joga os seus braços peludos em mim.
Insinua teus lábios em minha carne rígida.
Coça-me com sua barba.
Mantenha-se sério,
para que eu possa te amar como sempre amei
e mais, te dar.
Lamber-te, adornar-te com saliva e suor.
Traga-me sua explosão de prazer.
Todas as noites da minha vida.

Três vezes numa noite


Para você dedico meu amor, minhas palavras, minha esperança.

Para você que me acompanha com numa estrela à noite.
Para você que traz a luz aos meus dias escuros.
Para você que afasta as tempestades do meu deserto.

Para você dedico meu corpo, minha fidelidade, minha paixão.

Para você que com um corpo me atrai para perto de sua proteção.
Para você que se une a mim num encaixe perfeito.
Para você que encanta as noites em alegria eterna..

Para você dedico tudo que tenho e sou.
Pois sem você não sou e não tenho.
Para você que é meu amor e meu ódio.

Para você e só para você me dou por inteiro.
Para você e só para você me dou por inteiro.
Para você e só para você me dou por inteiro.

Três vezes numa noite.

Tocar-te


Especial para Luiz Paulo Silva.


Vai tocar-te nessa flor menino...
Olha tua face tão insinuosa,
que espera o amor a toda prova,
que assusta os corações mais sutis.
Vai tocar-te nesse amor menino...
Não experimente que as vezes abençoado,
mas muitas desgraça a vida.
Vai tocar-te nesse sangue menino...
não o deixe tomar,
pois é a efervescência vivente das chamas.
Vai tocar-te menino?
Sinta-se de novo.
Viva a alegria, deixe sua flor interna abrandar
sua impregnitude ignóbia do desprazer.
Se quer tocar-te liberte-se da solitude amena
e silenciosa que te faz preso nesse quarto.

Expressões


Quero um beijo,
sentir a barba roçando meu pescoço
e o amor que se entorna a me encarar
com a luz dos seus olhos.

Quero um abraço,
com a maravilhosa expressão do seu corpo
e os pelos que se exprimem
num carinho exótico.

Quero um sorriso,
que seja sincero
e que faça de você meu marido
para nos matarmos a noite.

Flores do jardim espiritual


Dá-me aquela flor,
aquela rosa, cor do amor
que se transforma em compaixão
perdão eterno no calor.
Se todos são guerreiros,
meu espírito não é!
De bondade e pavor
a paz se concretiza,
mas para que pedir uma flor
se logo depois eu vejo a guerra
em todos, o pavor!
É ao pedir a flor
que a guerra se dissipa
e meu coração se prontifica
para em ti ser esplendor
de uma beleza pacífica.

Fugir


Entre ásperas vozes
seu corpo se encolheu,
no medo.
Cambaleando m direção ao seio da mãe
tomou-se de amor,
procurou encontrar o silêncio,
o carinho;
O seio da mãe não a recebeu.
A áspera voz continuava a esbravejar
e nos pés do pai viu a fúria,
correu.
As ásperas vozes não cessavam,
subiu as escadas,
achou as bonecas, mudas.
Os olhos estalados,
os vestidos perfurados pelas traças,
o silêncio.
Um estampido forte.
Correu.
Desceu as escadas.
Achou o pai, chorando.
Achou a mãe, muda.
Os olhos estalados.
Fugiu.

Irmãos


Solidão?
Quanto tempo me exaspera,
me deixa triste e
pensativo.
Quanto tempo perdurou em mim.
Minha vida...
sempre alheia a ti...
Inútil!
Que queres de mim durante tanto tempo?
Sonhar...
Irmãos? Não, nenhum...
Duas meninas, irmãs, apenas isso!
Laços de sangue.
Sem afeto.
Por isso me faz falta,
abraço de homem,
carinho de mano,
de maninho, de manão.
Irmão,
posso escolher-te?
Seja um amigo.
Um olhar carinhoso e
um abraço
para entreter minhas melancolias
...
Solidão?
...

Nas estrelas


Encontre lá.
Nos céus, perdida,
Aquela estrela,
Lembra a vovó não lembra?
No amor perdido do espaço!
Criado em sete dias?
Aponta lá mamãe!
Deixa eu ver também?
Posso até sentir o amor.
Deus?...

Carinhos abandonados.
Perdidos num abraço sem lógica.
Vindo ninguém sabe de onde.
Quem sabe pode ser dele?
Sim! Pode ser sim!

Esperava encontrar aquela noite.
Fiquei esperando horas
Horas e horas de estrelas cadentes!
A que eu esperava ainda não veio.

Continua lá.
Encontre lá.
Nos céus escondida,
Aquela estrela.
Que lembra a vovó.

Olhar Amado



Que delicia poder olhar!
Olhos verdes amarelados.
Azuis esverdeados.
Da cor do cabelo, loiro.
Quem já viu olho amarelo?

Cor indefinida na verdade.
Mas o que importa é o que vem depois do olhar.
O carinho.
As mãos cruzando-se,
o calor.

Paixões estreladas,
noites cadentes.
Quentes. Úmidas.
A verdade é que nessa loucura,
tudo o que vejo são os olhos.
Limpos, despoluídos da censura.

Sem malícia,
apenas o amor. Puro, adorado.
Sonho com o dia, em que seus olhos,
serão os meus durante a noite.