sábado, 1 de março de 2014

A mutação do mundo depressivo

Talvez o amor não exista, talvez a simples menção ao amor eterno, a conjuração de uma sociedade que ama e convive pacificamente, a transformação do corpo e da alma em algo bom. Talvez tudo isso não exista. Talvez não exista o bom, o deus, o anjo, o sonho. Talvez, eu esteja sempre despreparado, sempre sozinho, sempre triste e preso em lamúrias de expressão e dor. Talvez eu apenas queira ver um olhar sorridente, mas é pedir muito. Talvez eu apenas queira ver um beijo nascendo do alto de meu semblante, que se formaria contente, e que deixaria escapar um sorriso verdadeiro pela primeira vez. Talvez eu queira apenas algo simples, e desejoso. Talvez eu pense melhor em ser o mais perfeito e tenro companheiro que alguém possa querer. Mas aí vem o Talvez e joga tudo pro alto, e abandona aos olhos do destino algo que talvez nunca acontecerá levando inclusive consigo as esperanças de um mundo melhor. E aí eu digo: Talvez o amor não exista. Talvez é uma quase certeza, talvez que se forma esperançoso, porque eu não quero destituir-me de vez. Talvez sinta o que emana das pessoas, e veja também dentro delas esse desespero angustiado, e talvez eu apenas sonhe em ser uma pessoa realmente melhor, e talvez eu queira me doar aos outros para me sentir menos pior. Talvez eu beije o meu próprio corpo na busca de carinho, talvez eu siga o caminho escuro, talvez eu afronte todo mundo, talvez eu peça desilusão, desrespeito, desamor. Talvez eu apenas queira um abraço. O seu abraço, o seu sorriso, o seu respeito. Talvez eu peça para não me abandonar, mas esse talvez já foi. Você me abandonou, todo mundo me abandonou, e eu não queria me abandonar, mas talvez eu faça. Porque talvez tudo que eu sempre desejei foi ser desejado. E de talvez em talvez isso nunca aconteceu, e eu continuo aqui, pensando e pensando e chorando e refletindo, que talvez, mas só, talvez. Diante de todo esse mundo desesperado e triste e amargurado e violento e egoísta, diante dessas pessoas que agora estão aqui abandonadas me ouvindo, me lendo, me vendo, talvez essas pessoas que nesse único momento estejam sentindo algo, porque quando esse texto acabar, o talvez acabará e ela-ele, voltará ao seu egoísmo. Porque talvez essa pessoa seja o próprio amor desalmado, o próprio cupido criado pelo demônio. O próprio demônio? Talvez? Quem sabe? cade deus agora? Talvez, ele não exista. E se deus é amor, bem. Talvez, só talvez... talvez o amor não exista.



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