domingo, 23 de março de 2014

A cultura da frieza

O mundo parece tão sem sentido ultimamente, nossas vidas andam perdidas, ninguém se olha nas ruas, e a cidade tornou-se cinza. Vendo deste modo parece triste, mas a maior tristeza apetece a alma quando você consegue olhar o mundo colorido, as pessoas felizes, se olhando, rindo, se beijando, se sentindo, e isso não acontece com você. Bem... Isso não parece triste, é desastroso, a alma se perde, a vida se perde, como se eu quisesse pegar água com as mãos, e ela escorre pelos meus dedos, que estão calejados demais, porque talvez meu coração esteja se refletindo na palma das minhas mãos. Eu não entendo como o mundo funciona, eu sou simples, ou talvez complicado demais, eu quero apenas amar verdadeiramente, não quero ter que me dedicar a uma falsa exposição porque a sociedade não pode permitir que eu diga eu te amo no segundo encontro, porque isso assusta... Que assuste então! Eu quero amar, eu quero me deixar amar... Desde o começo do século XX se instaurou essa cultura da frieza, dos corações gelados. Drummond disse “Os desiludidos do amor”, Florbela se suicidou pouco depois de descobrir “que quem disser que se pode amar durante a vida inteira é porque mente”. Eu nunca amei... Eu nunca fui amado... e tem sido difícil conviver com isso. Eu estou fazendo esse texto, como autor, como artista, tentando retratar a alma de tantas pessoas que passam por esse sofrimento, da falta das convenções sociais intrínsecas ao espírito. O que é conveniente tornou-se Deus. Deus se chama conveniência. A conveniência tem criado espíritos novos, e este novo Deus é frio como o ártico no inverno. É como se ninguém se visse. Hoje eu já não sei se quem se ama é apenas conveniente ou se ama de verdade. Manter um relacionamento está muito mais ligado à segurança pessoal do que ao sentimento. Baumam já nos disse isso “O relacionamento é um investimento”. Mas que merda! Será que o sexo e toda a intimidade formada a partir dele, do contato, do toque, do olhar, do beijo, do sonho, não significa nada para ninguém além de mim? Onde foi parar o cristo que dizia “amai-vos uns aos outros como a si mesmos”... De que adianta ser tão bom... seguir o (in)Feliciano (homicida e auto-homofóbico), e todos os seus comparsas e espalhar mentiras em nome de Cristo, se o principal mandamento não é seguido. Que vão à merda, você e a conveniência, e quem quiser amar, que venham comigo, que me sigam, que me amem, porque eu quero amar além das aparências.  Que enfiem a conveniência no cu, eu vou dizer eu te amo, no primeiro encontro se me der na telha, e se ninguém me desejar, se ninguém me desposar, morrerei honesto e seco. Se a conveniência criou o espírito de vocês, Deus criou o meu, que venham comigo, Florbela, Drummond, Bauman, que venham comigo brasileiros amantes de todas as tribos e culturas, o importante é o sentimento verdadeiro. Eu só quero comigo, os desiludidos do amor, o que acham que conseguirão amar a vida toda, os que pretendem se casar e ter filhos, por amor, não por medo, não por susto. Que o eu te amo seja celebrado como o espírito de Deus no meio dos homens, e não como um momento certo a dizer algo que pode se tornar estranho e amedrontado se dito em outro momento. Ahh meu Deus, quanto texto, quantas palavras dispersas e solitárias, quanto sentimento perdido aqui. E tu aí, sozinho, indo aos bares, com medo de dizer eu te amo, porque tem medo de ficar sozinho, e isso nem faz mais sentido.  Talvez você não chegue até o fim desse texto, talvez você não esteja aqui, nessa linha, talvez sua alma seja completa, e tu ames verdadeiramente, talvez você seja diferente do resto conveniente do mundo. Mas talvez, você seja como eu, sozinho, triste e abandonado, esperando amar de verdade, alguém que se importe, alguém com quem valha a pena se importar, alguém que possa ser tão triste, mas que possa me fazer tão feliz. Venham comigo “desiludidos”, vamos gritar ao mundo todo, “E agora José?”


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