terça-feira, 7 de janeiro de 2014

As mais lindas notas vem dos seus lábios tristes.

Eu sabia que aquele caminho não ia me levar a nenhum lugar, mas não estava mais aguentando as expressões que a vida me obrigava naquele dia. Então preferi encurtar o caminho e cortar aquele bairro perigoso para chegar mais cedo em minha casa. Mas enquanto descia, vi em meio a sujeira e a podridão do dia um cantor que me aproximou dos ouvidos com as mais lindas notas de amor. Ele cantava com um violão, e o som me aplaudia. Tudo que eu sonhei ouvir estava naquela canção. Os seus olhos mais lindos, e os beijos mais carinhosos, e as noites mais abraçadas. O chapéu no chão com poucas moedas. A voz que me ecoava. O Som que se perdia entre a grande multidão vazia de sentimentos e ações. Todos passavam, e eu como um mendigo passeando em meio ao nada, com apenas um rumo que pudesse levar-me à cama, decidi parar. A vida nos dá uma verdadeira emoção se a escutarmos com atenção. Todo esse barulho que se entorna. O silêncio do meu coração. A palpitação que se construía. E ele aquele dia chorou ao terminar o canto. Já tarde. Sozinho, vi que debaixo do banco onde ele sentava havia um pequeno colchonete. Colocou o violão num saco, Recolheu as moedas, e partiu com a bolsa musical num braço, o colchonete noutro, e as moedas despencando do bolso que sem que ele percebesse havia furado. E eu não me mexia, parado diante da cena que se construía. A ladeira enorme se formava, e eu continuei andando, enquanto as milhares de pessoas catavam as moedas do chão. Ao final da ladeira ele não tinha nenhuma moeda. Chorou de novo. Deitou no colchonete abaixo de um toldo, sem tomar banho, sem família, sem amigos. E eu não resisti. Abaixo do meu enorme apartamento, o convidei para jantar e disse que era meu pagamento pela música. Depois... já outro dia, ofereci um banho, novas roupas, café da manhã, almoço, um teste para a orquestra do teatro, que consegui com o custo de uma amizade comprada de anos. Sem anjos. E ele passou, e mora no meu apartamento, e é meu melhor amigo, meu mais sincero lábio de amor, que canta as mais lindas notas de uma nova vida. 



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