segunda-feira, 4 de junho de 2012

Poemas inéditos de Drummond, transcritos de fac-símeles, publicados na Revista Bravo (Junho - 2012)


PS: A transcrição foi respeitada, por isso, os erros e diferenças na escrita. (Isso inclui a acentuação)


A sombra do homem que sorriu

Ah! Que os tapetes não guardem
a sombra inútil dos meus passos...
Eu quero apenas ser, apenas,
um homem que sorriu e que passou,
erguendo a sua taça, com desdém.


Primavera nas folhinhas e nos jardins

O perfume das rosas entra-me pelo quarto,
numa lufada de primavera.
E eu fico, desvairado, a sentir o perfume,
o perfume das rosas, pelo quarto...

Numa lufada de primavera!

Que bom, ler os poetas sadios,
e não saber da lua, das estrelas,
e não saber do amor! E não saber de ti!
(De ti que és pallida e feia,
pallidamente  feia e melancólica.)
Mas apenas sentir, allucinante e forte,
o perfume das rosas, pelo quarto
numa lufada de primavera!

Quasi – Nocturno, em voz baixa

Tuas mãos envelhecem,
na prata fosca do silêncio.

O silencio, pelo crepúsculo,
é um arminho
onde as mãos repousam com doçura.

Tuas mãos no silêncio, pelo crepúsculo, são mais finas
e mais leves.

O silencio, o doce silencio,
vestiu de cinza transparente
as tuas mãos, pelo crepúsculo.


Vê como a agua sussurra

Vê como a agua sussurra no fundo dos tanques ermos,
como a agua, intimamente, chora.
E na face dos tanques ermos
boiam flores azues, grandes flores indifferentes.

A agua espadana no ar, em florido repuxo.
A alegria da agua, subindo
sobre a indiferenã azul das grandes flores!
- Vê o repuxo cahindo
Novamente, sobre tanques ermos.

Nos jardins,
A ironia da vida é feita de belleza

(Que ridiculo pensamento...)


Gravado numa parede

Saber que tu não virás nunca encher de rosas o meu quarto,

encher de belleza a minha vida...
e continuar á espera, de mãos vazias...

Saber que não partirás o meu pão, que não beberemos juntos,
ao jantar, um pouco d’aquelle amável e grato vinho velho,

que não acenderás a minha lâmpada,
que o piano não possuirá os teus dedos...

Saber tudo isso, o impossível e o irremediável
de tudo isso... e continuar sonhando inutilmente.

Ah! Por que não virás encher de rosas o meu quarto?

Ao menos,
vem encher-me de lagrimas os olhos.


A mulher do elevador

A que ficou lá longe, na grande cidade...

A que eu vi apenas um minuto, um minuto somente,
no elevador que subia.

Com que saudade inédita eu me lembro
da que não foi nem uma sombra, uma sombra fugaz
no meu destino.

Da que ficou, sorrindo, com um pouco de mim,
com um pouco do meu ser anonymo e vulgar,
a milhares de kilometros, na grande cidade...

Nenhum comentário:

Postar um comentário