A pele branca, os pelos soltos,
carne na carne, em vãos sonhos se entregam os amantes a luz do abajur. Pouco
aceso. Luz fraca. A volúpia se torna frequente, intensa, em pouco tempo o
movimento se transforma, vira uma pintura, uma música, uma dança. Havia música,
um ciello cheio de vida e melancolia, ouvia-se o respirar ofegante do musicista
que não desafinava. Nossos olhares cruzando-se em véus de calor. Os poucos
minutos juntos eram suficientes para que nós pudéssemos ser felizes. Ali, num sofá,
jogados na sala, ao lado do vinho. A luz do abajur apagou sozinha. Ficou uma
velinha acesa. Jogamos o livro para longe, e reconhecemos o amor.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Ânsia por escrever
Quinta Feira: 17/04/1988
Ânsia por escrever!
Tudo que eu esperei de você hoje
foi um motivo. Um belo motivo. Para entender sua alma e sua bondade. Durante
tantos anos de convivência, você só se preocupou em trazer-me paz, amor e
carinho, que recebia como se fosse o único. E era! Sempre. A verdade é que hoje
não tenho o que dizer. Você foi embora. Deixou-me suas roupas, discos, os
livros empoeirados. Sabe? Pareço ainda sentir seu cheiro pela casa! Vejo
vultos, sua presença ainda está aqui. Tenho a dizer que sinto falta daquele
olhar comprimido. Azuis esverdeados. A aurora em seus olhos. Deixa eu dizer que
sinto falta do seu toque. Da barba malfeita. Por isso tive ânsia. Ânsia por
escrever. Não posso deixar que parta como um papel usado e velho. Volta? Me diz
um motivo... para não sair à rua gritando... à porta da sua nova casa! Aquela
que tem as paredes meio mofadas? Sim... se não me engano é essa... esperarei
uma resposta antes de partir. À sua procura; Deixo essa lágrima como
recordação!
Com amor...
Quinta Feira: 24/04/1988
Destinatário falecido.
Arma. Branca. Faca. Corte.
Pulsos. Fracasso! Garganta! FRACASSO! Coração. Sangue. Chão. Carpete. Sujeira.
Mofo. Sufoco. Fracasso. Ilusão. Sonho. Retrospectiva. Sonho. Fracasso. Pulmão.
Sufoco. Ar... Ar... Ar...
Boletim policial: 24/04/1988
Causa da morte: Suicídio
Hora provável: 15:33
Sexo: Homem, 25 anos, Caucasiano.
Provas?
Um bilhete.
Querido, vou te encontrar!
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Sem título
Porque existe
a separação? É tanto porquê em minha vida que ultimamente ela se resume a isso,
perdeu o sentido, a vontade de viver realmente. Porque as pessoas não se amam?
E quando se amam, são tratadas como anormais, por quê? São coisas que eu não
entendo. Se é errado abraçar e beijar, e acariciar. Se não vale a pena amar. Se
todos nós somos estranhos que não se pode chamar pelo nome. Moço, moça, senhor,
senhora, desculpa dona! Que grande vadiagem!
Aquele João da
esquina me encanta, com pernas a mostra. Ele me atrofia os nervos, e me deixa
em espasmo. É ele que é o demônio a comprar minha alma. Porque demônio mesmo não
existe. Existem demônios, aquele é meu demônio, o mal que existe em mim.
É essa minha
revolta, não poder amar quem eu quero. A minha vontade é sair com o pau a fora,
jogando de um lado a outro... A merda na cara dessa sociedade escrota. É até
engraçado dizer essa palavra. Escrota. Já que estamos falando de pau. Cansei de
ser santo. De ser sertinho, com s mesmo, que é pra esculachar de vez essa merda
toda.
Mas essa
revolta toda vem dessa pergunta que não cala desde o começo desse desabafo.
Porque existe a separação? Já que sem esse porque tudo começa a fazer sentido. Se
eu pudesse eternamente amar. Ele não morreria e eu não estaria aqui a jogar
objetos na parede mofada.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Poemas inéditos de Drummond, transcritos de fac-símeles, publicados na Revista Bravo (Junho - 2012)
PS: A transcrição foi respeitada, por isso, os erros e diferenças na escrita. (Isso inclui a acentuação)
A sombra do homem que
sorriu
Ah! Que os tapetes não guardem
a sombra inútil dos meus passos...
Eu quero apenas ser, apenas,
um homem que sorriu e que passou,
erguendo a sua taça, com desdém.
Primavera nas
folhinhas e nos jardins
O perfume das rosas entra-me pelo quarto,
numa lufada de primavera.
E eu fico, desvairado, a sentir o perfume,
o perfume das rosas, pelo quarto...
Numa lufada de primavera!
Que bom, ler os poetas sadios,
e não saber da lua, das estrelas,
e não saber do amor! E não saber de ti!
(De ti que és pallida e feia,
pallidamente feia e melancólica.)
Mas apenas sentir, allucinante e forte,
o perfume das rosas, pelo quarto
numa lufada de primavera!
Quasi – Nocturno, em
voz baixa
Tuas mãos envelhecem,
na prata fosca do silêncio.
O silencio, pelo crepúsculo,
é um arminho
onde as mãos repousam com doçura.
Tuas mãos no silêncio, pelo crepúsculo, são mais finas
e mais leves.
O silencio, o doce silencio,
vestiu de cinza transparente
as tuas mãos, pelo crepúsculo.
Vê como a agua sussurra
Vê como a agua sussurra no fundo dos tanques ermos,
como a agua, intimamente, chora.
E na face dos tanques ermos
boiam flores azues, grandes flores indifferentes.
A agua espadana no ar, em florido repuxo.
A alegria da agua, subindo
sobre a indiferenã azul das grandes flores!
- Vê o repuxo cahindo
Novamente, sobre tanques ermos.
Nos jardins,
A ironia da vida é feita de belleza
(Que ridiculo pensamento...)
Gravado numa parede
Saber que tu não virás nunca encher de rosas o meu quarto,
encher de belleza a minha vida...
e continuar á espera, de mãos vazias...
Saber que não partirás o meu pão, que não beberemos juntos,
ao jantar, um pouco d’aquelle amável e grato vinho velho,
que não acenderás a minha lâmpada,
que o piano não possuirá os teus dedos...
Saber tudo isso, o impossível e o irremediável
de tudo isso... e continuar sonhando inutilmente.
Ah! Por que não virás encher de rosas o meu quarto?
Ao menos,
vem encher-me de lagrimas os olhos.
A mulher do elevador
A que ficou lá longe, na grande cidade...
A que eu vi apenas um minuto, um minuto somente,
no elevador que subia.
Com que saudade inédita eu me lembro
da que não foi nem uma sombra, uma sombra fugaz
no meu destino.
Da que ficou, sorrindo, com um pouco de mim,
com um pouco do meu ser anonymo e vulgar,
a milhares de kilometros, na grande cidade...
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