sábado, 28 de janeiro de 2017

Dedicado à Jazão

Havia um homem na rua, era um carteiro.
Um carteiro diferente do normal, ele comia pouco bebia muito e cheirava mal
Era um odor peculiar aos olhos da criatura que chamam de Ceifador.
Era um carteiro homicida. Ele tremelicava os dedos antes de dispensar as cartas.
As pessoas não gostavam dele, nem da sua aparência, raquítica e fina, esguia e pequena.
As pessoas não gostavam dele, mas ele não precisava disso.
Era um justiceiro injustiçado.
Não se via como herói, nem como bandido.
Era essa sua função, carteiro juiz. Carteiro magistrado.
Ele julgava as cartas que lia antes de entregar, e entre 
confissões de assassinato
roubos de heranças
golpes
casamentos obrigados
amores roubados
traições
ilusões
ele agia. Não gostava de mentiras. 
Entrava na casa da pessoa como quem não consegue entregar a carta na caixa de correio.
Ele dizia: Está emperrada! Pegue por favor. 
A pessoa abria a porta.
Ele sacava vagarosamente, uma seringa, e enfiava com violência como um ninja dos gibis no pescoço da pessoa.
Era um carteiro juíz. Um juíz amarelo, Da cor do sol, Radiante como a luz no fim do túnel. No fim.
Ele deixava o corpo morto em casa, e se havia parentes matava todos, envenenava toda a comida da casa, e sumia com a pessoa morta. Um a um, desapareciam todos. Ninguém sentia falta de ninguém, 
quando os parentes procuravam já era tarde.
A casa vazia, o silêncio. 
Radiante.
O carteiro Juíz. Sumia, nunca mais aparecia, Pedia transferência do setor, Mudava o rosto, o corte de cabelo. A cada morte, era mais esguio, magro, raquítico como no próprio semblante da morte.
O carteiro Juíz amarelo, radiante como o sol.
Queimando as flores de onde passava e as asas dos anjos com sua ira e raiva.
O grande antiherói justiceiro da cidade de Poucospassos.

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