sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Sobre um presidiário e um professor de carceragem - A volta para casa.

Para ler a parte 1: Clique aqui



_ Então, chegou o dia ... que bom ver você.
_ Não achei que você viesse não...
_ Eu disse, você combinou com outra pessoa?
_ Você ficou tão surpreso quando eu te contei, que não imaginei.
_ Bom, entra no carro que eu não posso ficar muito aqui, eu disse que estava doente para faltar hoje.
_ Beleza, vamos lá prof.
_ Ahn, já pode parar, não sou seu professor mais. Agora é Miguel.
_ Então M.I.G.U.E.L, Beleza...
_ Vou te levar em casa ok? eu comprei umas roupas pra você, espero que não se importe.
_ Não precisava mesmo comprar nada... Eu tenho uns amigos que podiam me ajudar.
_ Amigos, amigos sempre cobram sabe... Eu não. Eu faço muita coisa de graça pra muita gente, não é só pra você, relaxa.
_ Bom, eu agradeço, porque de verdade, eu só tenho essa roupa com cheiro de pó e cadeia.
_ Você vai ficar lindão, mais lindão.
_ Eu vou ficar mal acostumado.
_`Pois então fique, eu acho é que você vai ficar bem acostumado, a ser bem tratado... Eu sei mais ou menos como foi sua vida até aqui, não te julgo não te culpo, sabe, o sistema é muito pesado. As pessoas são condicionadas, as pessoas se tornam o que não querem se tornar, porque o mundo exige, a sociedade cobra, depois condena, então eu não te culpo.
_ Onde é que você tava?
_ Aqui, dando aula.
_ Não, sério, onde é que você estava? Eu nunca conheci alguém assim.
_ Acho que vem não tem saído com muitas pessoas decentes.
_ Na verdade não saí, você é o primeiro homem por quem eu me deixo sentir algo.
_ Mas você já sentia algo antes por outros meninos.
_ Não, isso é curioso.
_ Eu ainda confirmo meu medo, de que você pode inspirar algo fechado em mim para sempre, e depois partir.
_ Eu acho que o medo faz parte de tudo isso. Mas eu vou fazer você feliz, enquanto durar a eternidade...
_ Eu sempre pensei isso. Cada momento pode ser eterno... é um segundo interminável, mesmo esse. -  Mas eu vou te levar em casa. Como você vai ficar uns dias, eu deixei um quarto pra você, tem umas roupas, uns livros, que eu sei que você gosta. Era minha sala de tv, então, é tudo meio improvisado

(interrompe)

_ Tá tudo ótimo, fica tranquilo, e obrigado por me receber.
_ Então, eu espero que você goste de tudo. Depois que você tomar banho, dormir, descansar, comer bem, depois de tanto tempo. A gente vai dar uma volta? Pode ser?
_ Eu não quero ficar sugando suas energias e nem seu dinheiro.
_ Fique tranquilo, eu tenho outras fontes de renda fora as aulas. E além disso, eu já quero conversar com você. Sei que você quer ter seu emprego, mas eu estou precisando de alguém pra tomar conta de um bar. Eu to querendo começar um projeto novo. E preciso de alguém pra tomar conta de lá pra mim. enquanto isso, se você não se sentir a vontade, você pode ir procurando outro trabalho, mas ali já vai mantendo sua renda. - Não precisa me pagar aluguel, mas isso é pro caso de você querer ter seu espaço, sua casa, suas coisas.
_ Obrigado professor, obrigado mesmo.
_ Miguel.
_ Miguel, desculpa.
_ Sem problemas... estamos chegando... nem eu vejo a hora...
_ Está ansioso?
_ Um pouco, faz tempo que não levo ninguém pra minha casa. Muito tempo até...

liga os som

_ Que isso?
_ Isso? você nunca ouviu?
_ Ah, eu ainda to no Racionais eim
_ Eu gosto, mas não ouço no dia a dia, vou te mostrar tudo que eu ouço, tem blues, jazz, uns clássicos, uns contemporâneos bem bons, Nils Frahm, Sigur Rós eu gosto também, Esse quase ninguém conhece, Ólafur Arnalds, ainda tem os brasileiros.
_ tá, e isso é o que?
_ Isso é o Silva... Eu gosto dele, meu amorzinho platônico. "direi palavras certas de manhã, pra te despertar, pra te amanhecer, nada muda a escolha que eu fiz, do instante que eu vivi, de lá até aqui, o dia certo momento exatidão, batuca o verbo amar, retumba o coração"
_ Legal isso, gostei.
_Todo mundo gosta dele. - chegamos.
_ Eu vi que tava demorando, mas onde estamos?
_ Na chácara, eu moro aqui.
_ Essa chácara da no rio.
_ Aquela ponte ali atrás? Naquele rio?
_ Sim, aquele..
_ Cara, você é rico. Nem, nem sou, isso aqui é trampo demais.
_ A casa ainda tem um monte de coisa pra fazer sabe...
_ Eu acho que to impressionado um pouco...
_ Que isso, aqui é seu lugar também. Pelo menos por enquanto.
_ Cara sua casa? é de vidro?
_ é
_ oou.

ele para, olha tudo a volta, o rio ao fundo, o barulho ou a ausência dele, se ouve uns passáros, o vento da grama, no mato, ele ouve tudo, e o silêncio toma conta dele.

_ Bom, esse é seu quarto! Aqui é o banheiro... Deixei umas toalhas e tem shampoo no banheiro, depois se você quiser outro a gente compra.
_ Eu to bem, uso qualquer um.
_ Okay, eu vou preparar um almoço, toma banho, coloca uma roupa, depois a gente come.
_ Me dá um beijo?
_ sim.

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