segunda-feira, 14 de abril de 2014

O assassino e a borboleta

Eu não vou seguir a borboleta, me falaram que ela causa caos. Se cada vez que ela bate as asas aqui um furacão mata pessoas do outro lado do mundo... eu vou fazer o que ao segui-la? Nada, não quero ser cúmplice de assassinato. Prefiro ficar aqui, a lavar roupa, a lavar sangue, a lavar beijos e memórias passadas neste tanque da vida. Eu que estou sofrendo pelo meu íntimo como sofrem os poetas. Como sofrem os amores incorrespondentes. Não fico esperando as gotas de chuva caírem na janela, mas ao mesmo tempo desisto do mundo e de todos. Eu não quero ser cúmplice de assassinato. Será que preciso matar essa borboleta? Ela tem as asas tão douradas, será que vejo pó de ouro esvoaçando? Será? Duende? Doente? Gnomo? Nono? Que foi embora, que nunca mais voltou, que nunca mais me balançou nos pés a deixar largo meu sorriso de bebê. Essas lendas irlandesas que nos transformam em verdadeiros dopados químicos. Será? São as lendas? As fendas? Fendas da minha alma que mais parecem um abismo... um sujeito que me traz a lembrança de um tempo ao longe, onde tudo era fácil, e o mundo me fazia bem... eram as pessoas que me faziam mau. O mundo era lindo.... é lindo... mas não é tão lindo quando se tem fome, sede, esperança.... sentir esperança é pior que passar fome, porque a esperança como o nome diz é o ato de esperar, e quem espera nunca alcança, diz a música que só alcança quem acredita... Eu não acredito, nem espero mais... já foi o tempo. A borboleta bateu as asas de novo, parada na janela e me atrapalhando trabalhar, me incomodando pensando nas mortes no japão. Aquele filme estranho que passou na tv, o ator que tinha a voz do zé da silva, meu amigo lá do rio, dizem que ele e dublador... Eu não sei... como é que pode ter a mesma voz, o zé da silva, e o moço bonito do filme da globo? Como é que pode isso. Esse filme é mais estranho por isso do que por causa daquela teoria científica que eu acabei acreditando e que não sai da minha cabeça... Eu é que não vou ser cúmplice de assassinato. Melhor pegar o chinelo, o santo chinelo havaiana, que nos transforma em assassinos, possíveis presos da sociedade protetora dos animais, mas com esses ninguém se importa, não foi Deus que fez as baratas afinal... Deus só fez aquele cachorro poodle da madame que mora aqui em cima... o resto é produto da evolução de Darwin. O homem é imperfeito afinal... A minha tristeza não consola, não consola o pensamento de ter que matar ou morrer, não consola o beijo que foi embora, agora com a roupa estendida, e a cueca que ele esqueceu na minha casa, suja, depois de uma noite de amor. Não vale o consolo. Não vale de nada a esperança, e os sonhos vão embora dia a dia, desesperados. Uma chinelada, e ela estrebucha no parapeito, a gota da chuva bate em cima dela, o pó de ouro vira um borrão, outra chinelada e uma gosma me dá nojo, tenho que limpar essa coisa da janela, mas a minha janela, a janela da minha alma, triste e solitária... quem limpa?


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